A Casa Municipal da Cultura em Alvaiázere recebeu, no dia 24 de outubro, as VII Jornadas Temáticas que assinalaram o 18º aniversário da Al- Baiäz – Associação de Defesa do Património.
Estas jornadas, cujo tema foi "Do património natural ao intangível cultural – interdependências e identidades", começaram pelas 10h00 com a sessão inaugural, onde estiveram presentes a presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, Célia Marques; uma representação do tecido associativo de Alvaiázere (Rancho Folclórico de Pussos e Confraria do Chícharo); Maria Adelaide Furtado, presidente da direção da Al-Baiäz e António Monteiro, presidente da Assembleia Geral.
Célia Marques sublinhou que a comemoração dos 18 anos da Al- Baiäz é sinal de maturidade, mas também de responsabilidade, sublinhando o longo caminho que a Associação tem percorrido ao longo dos anos, bem como o facto de o património ser "um ativo gerador de riqueza e de desenvolvimento do território". Para além disso, a autarca mostrou-se totalmente disponível para que o Município possa apoiar a Al- Baiäz nos seus projetos e iniciativas.
Enquanto presidente da Associação, Maria Adelaide Furtado agradeceu a presença de todos, frisando que os últimos 18 anos têm sido de "trabalho feito, missão cumprida, mas acima de tudo de um sonho concretizado e acrescentou: "temos vontade de fazer mais e melhor, porque ainda há um longo caminho a percorrer".
O primeiro painel, relativo ao património natural, iniciou-se com a intervenção de João Paulo Forte, licenciado e mestre em Geografia e doutorado em Ciências (especialidade Geologia). Subordinada ao tema "desenvolvimento territorial versus património natural: antagonismo ou estereótipo?", a intervenção do geógrafo centrou-se essencialmente na explicação dos fatores que, na sua opinião, explicam a falta de eficiência da política de ordenamento do território, nomeadamente: a cultura da não informação, a cultura da não participação pública e ainda as visões diferenciadas sobre ambiente e desenvolvimento. Em suma, é necessária uma reflexão profunda sobre o que é o território e como estas questões devem ser equacionadas, de forma a aproveitar as potencialidades existentes como âncora para o desenvolvimento económico.
O segundo orador do painel dedicado ao património natural foi Sérgio Medeiros, espeleólogo e vice-presidente do GPS – Grupo de Proteção Sicó, cuja comunicação abordou o "Olho do Tordo a gruta incógnita". Sérgio Medeiros fez uma exposição bastante clara, que começou com a apresentação de documentos do século XVIII que já faziam referência a esta gruta e passou pela explicação e projeção daqueles que são os chamados sumidouros do Olho do Tordo. Essencialmente, o Olho do Tordo é a nascente de maior caudal de Alvaiázere, o acesso é feito através de um poço artificial de 18 metros, a gruta desenvolve-se ao longo de 140 metros, com um desnível de 25 metros, foi desobstruída nos anos 50, por obra de Vasco Mendes de Sousa (chefe do serviço de hidrologia) e no seu término existe um abatimento que impossibilita a passagem, tendo, no entanto, ligação aos já referidos sumidouros.
"Roteiros do património cultural e natural – dolinas e lagoas em Sicó" foi a comunicação do último orador deste painel, Carlos Silva, doutorado em turismo, que começou por definir e distinguir os dois conceitos: dolinas são "formas de dissolução dos maciços calcários, bacias e reservatórios de água", enquanto lagoas são "depressões sobre as argilas". De seguida, Carlos Silva apresentou algumas das imagens de dolinas e lagoas que compõem o seu livro sobre os roteiros de Sicó e que fizeram as delícias do público presente, devido à beleza natural e paisagística.
O primeiro painel de comunicações terminou com um espaço para debate, durante o qual Catarina Mendes, vicepresidente da Al-Baiäz sublinhou: o território de Sicó "tem imensas potencialidades, há muito trabalho a desenvolver e cada um de nós pode fazer alguma coisa para proteger aquilo que nos pertence".
Após um almoço de convívio entre associados e amigos, o período da tarde foi dedicado ao património cultural imaterial, com intervenções de Ana Maria Morão, doutorada em estudos literários ("O caminho de Santiago na literatura oral tradicional"); de Luís Antero, licenciado em estudos artísticos ("Paisagens sonoras no contexto natural da beira serra") e, por fim, de Paulo Lima, antropólogo, que abordou a temática "Paisagem Id, uma plataforma para documentar o PCI no Alentejo".
Após um espaço dedicado às conclusões, as VII Jornadas Temáticas encerram-se com um uma atuação da orquestra Ligeira da Filarmónica Alvaiazerense.
Al-Baiäz – Associação de Defesa do Património
Foi fundada a 20 de Junho de 1997, comemorando este ano o seu 18º aniversário. A sua actuação é de carácter estritamente cultural, no desempenho da cidadania, na vanguarda pelos interesses da comunidade, sem interesses pessoais, de natureza política ou económica.
Sempre que é chamada a intervir nas Consultas Públicas, os pareceres da direcção da Al-Baiäz são fundamentados no quadro jurídico no qual se situa, cumprindo um papel que lhe é legalmente reconhecido.
Tendo a associação como objectivo fundamental a defesa dos valores da terra, e porque o Castro da Serra de Alvaiázere é uma joia da coroa, foi requerida pela Al-Baiäz a sua classificação, mas depois de mais de uma década a aguardar decisão, o processo foi arquivado em 2014, em conjunto com outros processos que aguardavam classificação.
A título de exemplo da acção da Associação, é autoria da Al-Baiäz a publicação do guião "Orquídeas Sítio Sicó Alvaiázere", cuja publicação teve o apoio da Câmara Municipal de Alvaiázere e da Quercus. O autor da obra, Mário Lousã (professor catedrático), é sócio da Al-Baiäz e presidente da assembleia-geral. Conduzidos pelo seu saber científico na área da botânica, a associação iniciou no ano de 2001 os percursos pedestres, no âmbito do projecto " No trilho do Património Natural", actividades alargadas aos concelhos limítrofes num programa que decorreu até 2007. Ainda do mesmo autor, no plano do património natural (área da botânica) será lançado em breve outro roteiro, que servirá de guião aos percursos pedestres e cuja temática é "As Plantas Lenhosas do Sítio Sicó-Alvaiázere".
No âmbito do associativismo municipal, a Al-Baiäz apresentou a candidatura ao respectivo financiamento desta edição. A publicação da obra reveste-se da maior importância para a caracterização e divulgação da paisagem, mas também da caracterização botânica do Maciço de Sicó. Ainda no plano do património natural, é de salientar as inúmeras conferências e colóquios realizados pela associação com a colaboração de reconhecidos especialistas.
No âmbito das actividades regulares desenvolveram-se, ao longo de 18 anos, inúmeros programas culturais, colóquios, visitas de grupo, como as "Visitas ao Património" e as "Quintas com História", bem como inúmeros programas sobre o património arqueológico e o património religioso, o edificado, entre muitos outros.