Parabéns à Associação Alva Canto pelos seus 25 anos de vida em prol do desenvolvimento cultural do Concelho de Alvaiázere
Pretendemos revelar o percurso multifacetado ao longo dos seus 25 anos de existência da Associação Alva Canto de Alvaiázere, pelo que entrevistámos o presidente da direção, Manuel Lourenço.
“O Alvaiazerense” (O Alv.:) – Fazendo parte da Associação desde a sua fundação e sendo o presidente da direção a partir de 2015, como tem lidado com o desafio permanente de manter a atividade fulcral do grupo coral adulto?
Manuel Lourenço (ML) – O Coral Alva Canto, o coro adulto da Alva Canto – Associação de Cultura, constitui o denominador comum dos seus 25 anos, sendo a sua existência o motivo que levou à constituição da própria associação. É pois evidente que a história da Alva Canto é indissociável da história do seu coro.
Tal como em todos os grupos e organizações, o futuro garante-se com o envolvimento da juventude, e esse é um dos focos do trabalho da direção a que presido.
Temos, por isso, procurado diversificar as valências da associação, vocacionadas para serem fruídas, particularmente, pelas gerações mais jovens. Primeiro, com a reativação da oficina de teatro “oTAL”, em 2017; no ano seguinte arrancámos com o Coro Infantil de Alvaiázere (que agora já é infanto-juvenil); e no ano passado, em 2020, demos início ao mais recente projeto da associação, a “Alva Canto Academia de Música”.
Estamos em crer que haverá condições (e vontade) para, muito em breve, alguns dos elementos do Coro Infanto-juvenil de Alvaiázere e da Academia de Música ingressarem no coro adulto, assegurando-se, desta forma, a continuidade da valência mais antiga da Alva Canto, e que continua a ser a sua principal “imagem de marca”
O Alv.: – Na última entrevista que lhe efetuamos em fevereiro de 2018 para além da valência do grupo coral original, estavam a iniciar mais duas, a do coro infantil e a do teatro “o Tal”, como tem decorrido a consolidação destas?
ML.: – A pandemia tem impactuado muito negativamente na dinâmica das nossas valências.
O grupo de teatro “oTAL” não tem podido ensaiar, tendo a crise sanitária que vivemos deixado o grupo a meio da preparação de uma peça, que seria para apresentar em maio do ano passado. Esperemos que este ano já haja oportunidade para retomar os ensaios e proceder-se à apresentação da mesma.
O Coro Infanto-juvenil de Alvaiázere (sim, infanto -juvenil, porque os primeiros elementos cresceram, e ao grupo juntaram-se outros mais novos!) tem ensaiado com regularidade, mas naturalmente condicionado ao ritmo dos sucessivos confinamentos e deconfinamentos, e sem possibilidade para atuar perante o público. Ainda assim, o número de elementos do coro tem vindo a aumentar!
O Alv.: – Neste ano letivo iniciaram uma nova atividade “Alva Canto Academia de Música”, como foi a recetividade da comunidade à criação desta?
ML.: – O projeto da Alva Canto Academia de Música começou a ser pensado e estruturado ainda em 2019. A Direção percecionou a inexistência, no concelho, de ensino de música em alguns dos instrumentos que, muitas vezes, estão na primeira linha da escolha dos mais jovens e das respetivas famílias. Quando pensámos em avançar tinha que ser para fazer diferente do que é feito na região, com um projeto pedagógico que acrescente de facto valor ao investimento que é feito na formação musical dos alunos.
Neste sentido, procurámos parceiros que nos auxiliassem nesse objetivo. Foi assim que chegámos ao contacto com a associação Canto Firme de Tomar, que tem créditos firmados no ensino oficial de música, com conservatório, ensino articulado e ensino profissional, e com quem a Alva Canto possui um relacionamento institucional desde a primeira hora (foi o coro Canto Firme que apadrinhou o Coral Alva Canto, na sua estreia).
Quisemos também dotar o projeto com uma forte componente de integração social. Os custos do ensino de música são elevados, e numa tipologia pluridisciplinar, como aquela que ministramos na Alva Canto Academia de Música, mais dispendioso se torna.
Apresentámos o projeto ao Município de Alvaiázere, para aferir da possibilidade da autarquia suportar parte da propina dos alunos, em função do escalão da ação social escolar, construindo-se assim um projeto cultural de enorme valor para as crianças e jovens e com um marcante pendor social. A receptividade foi total!
Apesar de ser o ano de arranque, e num contexto inevitavelmente muito marcado pelas vicissitudes e condicionalismos provocados pela pandemia, contamos atualmente com 24 alunos, com idades que vão dos 5 aos 71 anos, distribuídos por três classes de instrumento: guitarra, piano e violino. Os alunos que aderiram ao ensino (estruturado de acordo com o ensino oficial), para além da disciplina de instrumento, têm ainda uma disciplina de base teórica e outra de conjunto.
Todos os professores têm formação superior em música, garantindo-se uma boa preparação para, no caso dos alunos e famílias o pretenderem, poder-se fazer exame de equivalência ao conservatório!
O Alv.: – Quais as maiores dificuldades sentidas nestes tempos de pandemia?
ML.: – A pandemia tem sido terrível, para a associação…!
O coro adulto não ensaia desde final de fevereiro de 2020. Revelou-se impossível compatibilizar ensaios presenciais, com o risco que a doença acarreta para a maioria dos coralistas. Por razões análogas, a secção de teatro, “oTAL”, também não tem ensaiado…
Apenas o coro infanto-juvenil e a Academia de Música, por serem frequentados por uma população mais jovem, têm funcionado com regularidade, embora sem o “calor” e proximidade que todos gostaríamos.
Ainda no que respeita ao coro adulto, estou em crer que deveriam haver orientações uniformes por parte das autoridades de saúde, relativamente à possibilidade de atividades como esta poderem ou não decorrer. O que assistimos foi a uma tremenda disparidade de concelho para concelho, em que nuns havia autorização para que os ensaios decorressem, enquanto que noutros não…
Não coloco em causa a decisão de suspender atividades que propiciem maiores riscos, aliás percebo a perfeitamente. O que já não entendo é como a avaliação do risco varia consoante o avaliador…
A Alva Canto tem um plano de contingência que define, para cada tipo de atividade, a adoção de um conjunto de medidas para minimizar o risco.
Espero, por isso, que com a redução dos números da pandemia no concelho, na região e no país, e adotando essas mesmas medidas (ou outras que nos sejam sugeridas), nos seja autorizada a retoma das valências que têm estado suspensas.
O Alv.: – Quantas pessoas, na globalidade de todas as vertentes desenvolvidas pela Associação, fazem parte da Alva Canto?
ML.: – No cômputo total das quatro valências, o Coral Alva Canto, a secção de teatro “oTAL”, o Coro Infanto-Juvenil de Alvaiázere e a Alva Canto Academia de Música, envolvemos um total de cerca de 75 pessoas. Atualmente, só entre aulas de música e ensaios, a Associação tem atividade de segunda-feira a sábado!
O Alv.: – A nossa região tem uma baixa densidade populacional, como conseguem conquistar pessoas para participarem nas diversas atividades?
ML.: – Aquilo que temos procurado fazer, com as novas valências que temos dinamizado na Associação nos últimos anos, é dar resposta a necessidades que percepcionamos existir na nossa comunidade.
Tentamos diagnosticar as lacunas do ponto de vista da oferta cultural, e fazemos por preencher essas lacunas.
Percebemos que há um hábito arreigado por parte dos mais novos em fazer teatro, adquirido durante o percurso escolar, mas que quando terminavam o ensino secundário não tinham forma de o continuar a fazer em Alvaiázere. Reativou-se assim “oTAL”.
A maioria das crianças gosta de cantar, mas não havia nenhuma instituição no concelho a ensinar os mais novos a utilizar o instrumento mais democrático que podemos usar, a nossa voz! Criou-se o Coro Infanto-juvenil de Alvaiázere.
E como já tive oportunidade de referir anteriormente, a Academia de Música nasceu também do facto de no concelho não existir, por um lado, oferta de formação musical em determinados instrumentos e, por outro, de formação regida pelo currículo oficial.
Portanto, ainda que a o concelho (e a região), enferme dos problemas da interioridade, a nossa necessidade de fruição de cultura é a mesma que noutros territórios. E o facto da comunidade ser mais pequena também tem as suas vantagens…!
O Alv.: – Qual a metodologia da Alva Canto para envolver a comunidade e outros parceiros para a obtenção dos recursos necessários ao funcionamento da Associação?
ML.: – Essa é uma questão muito importante. Temos procurado envolver parceiros nas últimas iniciativas que temos promovido, e se estas têm tido êxito, se têm cumprido com os objetivos a que nos propusemos quando as iniciámos, tal deve-se ao facto de termos conseguido estabelecer parcerias com outras entidades, que se revelam fundamentais em diversas dimensões, seja na estruturação pedagógica, no apoio logístico ou em matéria de financiamento.
O nosso parceiro de sempre tem sido o Município de Alvaiázere, que ao longo de 25 anos tem apoiado e financiado a atividade da Alva Canto. Mas o suporte da comunidade também se revela no apoio que nos vai sendo prestado pelas Juntas de Freguesia, e, de uma forma que nos é muito particularmente querida, pelo apoio que cidadãos nos vão concedendo, e que se assume de extrema importância.
Nos últimos anos alargámos o nosso leque de parcerias, umas de carácter mais formal, como a que foi estabelecida com o Centro Paroquial de Solidariedade Social de Alvaiázere, fundamental enquanto suporte para a atividade do Coro Infanto-Juvenil de Alvaiázere, ou como a que foi estabelecida com a Associação Canto Firme de Tomar, que assegura a coordenação pedagógica da Academia de Música; mas não menos importante é o fomento de um bom relacionamento institucional com as outras instituições do concelho, essencial para o envolvimento da comunidade Alvaiazerense.
O Alv.: – No dia 2 de fevereiro de 1996 esta Associação foi fundada, assim, no passado mês de fevereiro completou 25 anos de atividade, e devido à pandemia ficou adiada a sua comemoração. Qual o programa, já delineado, para festejar este marco histórico alcançado pela Associação?
ML.: – Tem sido angustiante não poder estar a festejar os 25 anos da Alva Canto Associação de Cultura, da forma que todos desejaríamos… Em condições normais, em fevereiro teríamos feito uma grande celebração! Mas, de facto, com a covid-19, os tempos são tudo menos normais, e há que nos adaptar às circunstâncias. No dia 2 de fevereiro, foi instalado um pendão na fachada da Casa da Cultura de Alvaiázere, (onde temos a nossa sede), lembrando que a Alva Canto está há 25 anos “a servir cultura”; no dia 7 desse mês, a eucaristia dominical em Alvaiázere foi por intenção de sócios e amigos da Associação.
Estamos, também, a preparar a edição de um livro comemorativo dos 25 anos da Alva Canto, que se assuma como um registo para a posteridade do passado desta instituição, e, em simultâneo, inspire as gerações mais novas a superar o trabalho que tem vindo a ser efetuado.
Esperamos, para breve, voltar aos ensaios do coro adulto e, em função da evolução da pandemia, proceder ao agendamento de iniciativas comemorativas dos 25 anos da associação, celebração que vai decorrer durante todo o ano.
O Alv.: – Como perspetiva o futuro da Associação Alva Canto?
ML.: – A Alva Canto tem crescido. Diversificou a sua oferta cultural e tem mobilizado mais pessoas nos últimos anos, entre as quais, muita juventude.
É costume dizer-se que a juventude de hoje é o garante do amanhã. Portanto, é com muito otimismo que antevejo o futuro da Alva Canto!
O Alv.: – Que mensagem gostaria de deixar à população alvaiazerense?
ML.: – Acima de tudo, quero deixar uma mensagem de gratidão. Estamos ininterruptamente em atividade há 25 anos, porque ao longo deste quarto de século, sentimos existir uma razão de ser para a nossa existência enquanto instituição, uma missão a cumprir enquanto agentes culturais. E esse sentimento existe porque sentimo-nos acarinhados pela comunidade Alvaiazerense.
É não mais do que esse reconhecimento que procuramos, na certeza de que vamos continuar a trabalhar para servir cultura no concelho de Alvaiázere, com o mesmo empenho e dedicação dos últimos 25 anos. À comunidade Alvaiazerense, o nosso muito obrigado!