PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

Auditório da Casa da Cultura recebe nome do cineasta Fernando Marques Lopes

Dia do Concelho

Decorreram no passado dia 13, na Casa da Cultura de Alvaiázere, as cerimónias do Dia do Concelho.

Iniciou a sessão o presidente da Assembleia Municipal, Eng. Carlos Graça, recuando no tempo para abordar um pouco da história do concelho, pelas dificuldades por que passou, recordando o ano de 1895, em que Alvaiázere deixou de ser concelho, enfatizando contudo o seu percurso após o 25 de abril de 1974, nomeadamente o facto de este ano a FAFIPA celebrar a sua 40ª edição.

Enfatizou também a necessidade de criação de infraestruturas para a população, proporcionando-lhe melhores condições, bem como a necessidade do desenvolvimento das freguesias que compõem o concelho.

Numa perspetiva de futuro, a necessidade de se pensar numa estratégia, assente em dois a três aspetos a desenvolver, bem como na aposta nas potencialidades do concelho. Aqui deu como exemplos, as florestas – apostando no seu desenvolvimento, considerando que de momento não criam riqueza às populações; a energia – salientando o papel da energia eólica; e o turismo, dando como exemplo a localidade da Rominha, quer pelas suas origens, quer pela centralidade, nomeadamente a sua proximidade ao santuário dos Covões; a capela de Nª. Srª do Amparo em Maças de D. Maria ou a Ribeira de Alge.

Outra aposta, na sua opinião, será na economia social, de forma a poder-se apostar na criação de emprego no concelho, tendo em conta a falta de mão de obra, o envelhecimento da população, desafiando também os autarcas das freguesias a apostar na construção de habitação a custos controlados.

Ao nível da descentralização, deu como exemplo a educação, aspeto terrível para os autarcas, em que se vêm privados da sua participação na gestão das escolas, considerando, não se tratar de uma verdadeira descentralização. A terminar, deixou um alerta, os desafios são enormes, devemos aprender com o passado e pensar no futuro, fazendo melhor, que o executivo seja iluminado para cumprir e executar os desafios, proporcionando melhores condições de vida às populações, tornando-as mais felizes.

Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, começou por agradeceu aos presentes e à família do Cineasta, Fernando Marques Lopes, reconhecendo a intervenção assertiva do Presidente da Assembleia Municipal. Referiu-se ao 13 de junho como o dia de Alvaiázere e o seu território, com todas as suas potencialidades fantásticas.

Salientou o regresso da FAFIPA, com “enorme sucesso, uma grande enchente, como era previsto”, o papel das associações e do pessoal do município. Que o sucesso se deve à estratégia “Alvaiázere mais atrativo e mais dinâmico”.

Ao nível da intervenção do município, referiu que não tem apenas como objetivo fazer festas, também dar continuidade ao trabalho que vinha do anterior executivo e concluí-lo, dando como exemplos a área empresarial quase concluída; a mata do carrascal em conclusão, proporcionando a sua abertura à população, tendo como objetivo a sua valorização, a valorização das piscinas descobertas, também em curso, e, a conclusão do Plano Diretor Municipal até ao mês de outubro. Salientou ainda o facto de Alvaiázere ter quase tudo, não serem necessários mais edifícios, apenas a sua requalificação, quer da Casa da Cultura, do museu municipal, apostandose numa estratégia de conservação do património existente. Sendo Alvaiázere um concelho do interior, apelou ao poder central para não o esquecer, apostandose numa valorização positiva. Deu como exemplos os casos da REN (Reserva Ecológica Nacional) e da RAN (Reserva Agrícola Nacional), projetos que asfixiam o concelho, defendendo que os concelhos do interior devem ser compensados pela existência da floresta, “não podemos ter floresta e não termos pessoas”.

Ainda no âmbito da estratégia do município, referiu ser intenção apostar no reforço dos gabinetes, de apoio ao imigrante e às empresas, como forma de promover e incentivar as empresas a investir no concelho.

Falando de pessoas, considerou os alvaiazerenses, povo de muita garra, muito lutadores, nesse sentido, o município decidiu, condecorar dois funcionários da Câmara Municipal, bem como homenagear um dos melhores, um dos que, como considera, levou o nome de Alvaiázere a vários cantos do mundo, reconhecendo-o como “o melhor dos melhores” – Fernando Marques Lopes, cineasta, nascido aos 28/12/1935 natural do concelho de Alvaiázere e autor de uma obra ímpar, desde a realização de vária obras cinematográficas, a presidente do centro português do cinema, com a medalha de mérito do município, condecoração entregue à família presente na cerimónia. No final procedeu-se ao descerrar de uma placa em nome do homenageado, passando a designar-se “Auditório Fernando Marques Lopes”.

Terminou agradecendo a todos os presentes por celebrarem o Dia do Concelho.

Breve Biografia do homenageado, uma personalidade com notoriedade nacional e internacional, com raízes em Alvaiázere e que, na sua obra sempre se pautou por enaltecer e contribuir para valorizar e divulgar o património do concelho.

Fernando Marques Lopes nasceu a 28 de dezembro de 1935 no lugar de Cabaços (freguesia de Maçãs de Dona Maria – concelho de Alvaiázere) e faleceu a 2 de maio de 2012, em Lisboa. Era filho de Eugénio Dias Lopes e de Elvira Marques Lopes. Passou parte da infância em Vila Nova de Ourém, aos cuidados de uma tia, tendo entrado pela primeira vez numa sala de cinema naquela vila. Foi para Lisboa aos dez anos, ao encontro da mãe. Pouco depois, começou a trabalhar, como paquete numa loja da Baixa Pombalina, prosseguindo os estudos no ensino técnico. O despertar, na sua juventude, para a realização aconteceu através do movimento cineclubista. Ao ser sócio do Cineclube Imagem, dirigido por José Ernesto de Sousa, teve a oportunidade de ver muitos filmes censurados à época, o que lhe conferiu a capacidade de absorção do papel importante que representava o Cinema tanto no campo cultural, social e político.

Em 1957 Fernando Lopes concorreu ao quadro técnico da Rádio e Televisão de Portugal, então inaugurada. Ao fim de dois anos a trabalhar na RTP, obteve em 1959, uma bolsa do Fundo do Cinema Nacional, que o levou para Inglaterra. Nesse país frequentaria a London Film School of Film Technic, onde obteve o diploma de realização de cinema, em 1961, tendo então estagiado na televisão pública britânica, a BBC (British Broadcasting Company). No estágio final do curso, trabalhou um mês como assistente de Nicolas Ray, na rodagem do filme Sombras Brancas. Após o regresso de Londres realizou, de imediato, Belarmino (1964), com a suprema produção de António da Cunha Telles, uma média metragem sobre a vida do pugilista português Belarmino Fragoso, o qual se tornou na sua primeira grande obra, em particular na área documental. A crítica considerou o filme a obra-chave do movimento do novo cinema português colocando Fernando Lopes como um dos realizadores desse novo movimento, que bebia inspiração no cinema europeu do pós-guerra. Em 1965 fez um estágio em Hollywood, onde permaneceu durante três meses. Ao regressar filmou Uma Abelha na Chuva (1971), baseado no romance homónimo de Carlos de Oliveira. Este filme seria, a par de Belarmino e, posteriormente, O Delfim (2002), a partir do livro homónimo de José Cardoso Pires, uma das obras mais significativas da sua filmografia. Em 1969 foi nomeado presidente do Centro Português de Cinema, cooperativa de cineastas apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, tendo leccionado (vários anos) no Curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema, do Instituto Politécnico de Lisboa, e dirigiu, com António Pedro Vasconcelos, a revista Cinéfilo (1973-1974). Entre finais da década de 1970, princípios de 80 foi cofundador da RTP2, e o seu primeiro diretor, numa altura em que a segunda estação pública ficou conhecida como Canal Lopes, por causa de uma crónica de Rolo Duarte. Na RTP, Fernando Lopes fundou, ainda, o Departamento de Co-Produções Internacionais, com especial relevância tanto para o Cinema nacional como para a própria Televisão. Em 1976, assina a sua terceira longa-metragem, Nós Por Cá Todos Bem, em que aborda o contraste da vida no campo (Várzea dos Amarelos – Maçãs de Dona Maria) e na cidade, homenageando também a vida da sua mãe. Na década de 1980, mais precisamente em 1984, dá-se a sua incursão na comédia, com Crónica dos Bons Malandros, adaptação do livro homónimo de Mário Zambujal, pelo próprio Fernando Lopes, com Artur Semedo, sendo estes dois também intérpretes, ao lado de um elenco composto por João Perry, Nicolau Breyner e Lia Gama. A 9 de Junho de 1994 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Em 2002 estreia O Delfim, adaptado da obra homónima de José Cardoso Pires, feita em parceria com Vasco Pulido Valente. Seguindo a obra original, que retrata de forma cáustica uma família aristocrata do Portugal rural, no final do salazarismo, as personagens principais, Tomás da Palma Bravo e Maria das Informação IMP. 02.09-0 Mercês, são interpretados por Rogério Samora e Alexandra Lencastre. Serão também Rogério Samora e Alexandra Lencastre a protagonizar Lá Fora, filme estreado em 2004, com argumento do crítico João Lopes, onde aborda a possibilidade de uma relação amorosa entre duas personagens que vivem uma vida marcada pela solidão. 98 octanas (2006), Os Sorrisos do Destino (2009) e Em Câmara Lenta (2012) foram os seus últimos filme.