Comandante dos BVA, Mário Bruno
O Alv.: – Qual o balanço que faz dos incêndios que assolaram o nosso concelho?
MB.: – Embora devastadores e com vários prejuízos materiais para a população afetada, não tivemos nenhuma vítima mortal ou ferido grave no seio da população e esse objetivo foi cumprido muito devido ao trabalho efetuado pelos Bombeiros e forças de segurança onde destaco a GNR e o seu comando concelhio, à Câmara Municipal nomeadamente do seu Presidente que esteve sempre presente e de todos os seus funcionários, em particular os que estiveram nos locais de refugio e no apoio às operações de logística, às juntas de freguesia onde destaco os seus Presidentes Davis Carmo e o Edgar Duarte que foram estoicos e incansáveis, à direção do GOFOA em particular e também à enorme e heroica atitude da população das Freguesias afetadas que lutaram com todas as suas forças para proteger os seus bens até ao limiar da sua segurança, onde depois souberam acatar as ordens de evacuação para que não houvessem vítimas a registar.
“O Alvaiazerense” (O Alv.) – Como explica as queixas da população, que em diversos lugares de Almoster nunca apareceram os Bombeiros de Alvaiázere?
Mário Bruno (MB) – Permita-me que contextualize esta questão. No mapa dos incêndios Nacionais, Pelmá e Almoster nunca foram um foco inicial de incêndio, pois estes foram consequência do alastrar dos incêndios com origem no Concelho de Ourém (lugar da Cumeada) e Pombal (lugar de Pias). Neste sentido numa primeira fase o Comandamento das operações e combate eram da responsabilidade dos respetivos comandos dos Concelhos onde se iniciou o combate, o que nos trouxe muitas dificuldades iniciais, nomeadamente na projeção de meios para o Nosso Concelho.
Numa segunda fase, conseguimos concentrar o comando dos incêndios das Nossas freguesias em Alvaiázere o que levou a que na segunda feira os incêndios no Nosso Concelho, fossem dados em resolução e praticamente extintos, levando a que as estruturas Distritais de Proteção tivessem decidido desmantelar o Posto de Comando de Alvaiázere, ficando novamente o incêndio de Pelmá na estrutura operacional do incêndio de Ourém e o de Almoster na estrutura operacional de Ansião. A partir de terça feira as condições meteorológicas agravaram e muito o risco de reativações o que, juntando ao cansaço dos Bombeiros e também das viaturas tornaram impossível muitas das vezes o combate das mesmas.
Se não chegámos a algumas localidades foi porque era insuficiente o número de Bombeiros e de meios necessários que solicitei vezes sem conta quase até à minha exaustão. Assim, a sua pergunta deverá ser dirigida aos organismos Distritais e Regionais de Proteção Civil, o porquê dessa decisão que levou a que os meios fossem retirados do Nosso Concelho.
O Alv.: – Quantos elementos do corpo ativo dos BVA e respetivos meios de combate aos incêndios estiveram envolvidos no concelho de Alvaiázere?
MB.: – Não consigo responder a essa pergunta com precisão já que esses dados estão na posse da ANEPC. (Autoridade Nacional de Emergência e de Proteção Civil) Sei-lhe dizer que em relação aos Bombeiros de Alvaiázere tivemos diariamente envolvidos em média 63 operacionais, sem contar com diretores e funcionários que trataram de toda a logística do incêndio. Quanto a meios a mesma resposta, referindo somente que todas as viaturas dos Bombeiros de Alvaiázere, foram utilizadas.
O Alv.: – Quais as maiores dificuldades sentidas?
MB.: – Principalmente a falta de meios. Um exemplo, numa dada altura o comandante dos meios aéreos dizia aos helicópteros para abastecerem no reservatório da Avanteira e esse helicóptero fazia as descargas na Freixianda, com frentes ativas no Nosso concelho nomeadamente em Casais do Vento. Insurgi-me contra essa situação, mas como o Comandante dos meios aéreos estava afeto ao incêndio de Ourem, decidia sempre a favor da frente que estava na Freixianda. Este é um exemplo entre muitos.
Depois as condições climatéricas extremas, que foram consideradas as piores de sempre em Portugal para a ocorrência de incêndios, com temperaturas de 48º C e ventos fortes com várias mudanças de direção ao longo do dia o que tornava inconsequente a curto prazo qualquer tática de combate. Nestas condições, estar em frente a chamas é um cenário terrível para os Bombeiros o que aliado ao cansaço acumulado tornava o combate muito complicado. Não esquecer que quase todos os Bombeiros tiveram uma semana praticamente inteira sem ir dormir a casa, a “descansar” nas viaturas ao fumo e ao calor.
Outra dificuldade foi a lesão do nosso companheiro Félix que nos abalou a todos e a mim em especial.
O Alv.: – Realmente uma situação que todos desejamos que seja ultrapassada rapidamente. E como se encontra neste momento o Bombeiro, Félix Marques?
MB.: – O Félix é um guerreiro como poucos. Um Bombeiro e um Homem excecional. Foi submetido a uma cirurgia ao fémur esquerdo resultante da fratura que sofreu, que correu bem. Agora encontra-se em fase de recuperação. Com o apoio da sua família e das equipas médicas, vai recuperar bem desta mazela.
O Alv.: – Que mensagem gostaria de transmitir à população Alvaiazerense?
MB.: Começo por cumprimentar todos os leitores e agradecer a amabilidade do jornal Alvaiazerense por esta entrevista.
Depois, deixe-me que dirija uma palavra aos meus Bombeiros por toda a dedicação e altruísmo demonstrada todos os dias, durante todo o ano mas em especial nestes dias muito difíceis para todos.
Depois uma palavra solidária para a população das Freguesias de Almoster e Pelmá que foram afetadas com estes incêndios. Acreditem que se mais não fizemos foi porque nos foi humanamente impossível. Compreendo e sinto o vosso descontentamento e tristeza mas peço-vos que não critiquem os Nossos Bombeiros. Eles deram tudo o que tinham e podiam. Se tiverem de criticar que dirijam essas críticas a mim pois eles, cumpriram todas as ordens que lhes eram dadas.
O Alv.: – Obrigada