PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

Entrevista ao Presidente da Câmara, João Guerreiro

Incêndios

“O Alvaiazerense” (O Alv.): – Como responsável municipal pela proteção civil, qual o papel do serviço municipal de proteção civil no âmbito dos fogos recentes no concelho?

João Guerreiro (JG): – Os incêndios rurais que atingiram o nosso concelho no mês de julho foram efetivamente uma catástrofe natural de enormes dimensões para o nosso território e muito em particular para as Freguesias de Almoster e Pelmá. A estrutura fundiária da nossa região, o despovoamento a que assistimos nas últimas décadas (que leva ao abandono de muitos terrenos) e as velhas questões ligadas aos modelos de gestão da floresta, que vêm a ser debatidas ano após ano sem grandes efeitos práticos criam um cenário cada vez mais propicio à ocorrência deste tipo de desastres. Se a isso juntarmos condições climatéricas muito adversas, como as que enfrentamos na altura dos incêndios, o risco de ocorrerem eventos desta natureza é muito elevado.
Enquanto responsável pela proteção civil estive envolvido desde a primeira hora até os incêndios serem considerados como extintos. O executivo, o serviço municipal de proteção civil e grande parte dos funcionários do município foram de uma dedicação absoluta, garantindo não só que todas as responsabilidades da proteção civil municipal eram executadas com grande celeridade e rigor, mas também indo para além disso e apoiando toda a população e os restantes agentes em tudo o que nos foi solicitado.
Nestes incêndios em Alvaiázere conseguimos salvaguardar todas as vidas humanas. Também ao nível da evacuação de pessoas e do acolhimento dessas mesmas pessoas e dos respetivos animais de companhia foi feito um grande esforço, com o empenho de todos e a colaboração de muitos voluntários, foi possível minimizar o impacto negativo naqueles que foram mais diretamente afetados.
Nenhum dos dois incêndios que devastaram o nosso território teve início no Concelho de Alvaiázere, um teve origem no Concelho de Ourém (Distrito de Santarém) e o outro em Ansião (Distrito de Leiria). Quando entraram no nosso território a 8 de julho, ambos já apresentavam uma dimensão considerável e perante esta realidade, optamos logo no dia seguinte por ativar o Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil de Alvaiázere (PMEPCA). O PMEPCA é um instrumento que permite agilizar a tomada de decisão e a solicitação de meios sanitários, logísticos e de combate aos incêndios rurais.

O Alv.: – Além da grande área ardida no concelho, quais os outros prejuízos a nível do património natural e construido?

JG.: – Logo no dia em que os incêndios foram dados como estando em resolução, a 15 de julho o município criou equipas multidisciplinares, em colaboração com as juntas de freguesia, para efetuar o levantamento dos danos provocados junto de todos quantos foram diretamente afetados pelos incêndios. De acordo com o enquadramento legal e dada a dimensão dos incêndios, embora o apuramento de danos não seja competência direta do município (cabendo essa responsabilidade às forças de segurança e ao ICNF) decidimos avançar de imediato, para mais rapidamente conseguirmos obter soluções de apoio à população.
Neste levantamento preliminar, os prejuízos apurados são de facto muito avultados e para além dos cerca de 4.000hectares de área ardida, temos registo de 5 casas assinaladas como de primeira habitação e 19 de segunda habitação totalmente destruídas (outras 28 habitações foram parcialmente afetadas). Também mais de uma centena de estruturas de apoio foram atingidas (anexos, barracões, garagens, telheiros, etc…). Não querendo ser exaustivo em demasia, devemos considerar algumas dezenas de meios de transporte e várias centenas de alfaias agrícolas e ferramentas. Também muitos animais e o respetivo alimento foram perdidos nestes incêndios. No que respeita aos principais impactos a nível florestal e agrícola foram apurados cerca de 900 hectares ardidos de Rede Natura 2000 bem como 800 a 1.000 hectares de olival.

O Alv.: –Qual o plano previsto para minimizar os prejuízos resultantes destes incêndios?

JG.: – A dimensão dos prejuízos causados é de tal ordem que as necessidades financeiras para a recuperação estão muito além daquilo que são as possibilidades do orçamento municipal. O apoio básico e imediato às famílias afetadas tem sido assegurado pelo município e pelas juntas de freguesia até ao momento. No entanto, a recuperação a médio prazo só poderá ser assegurada com o apoio dos vários organismos do estado com competência nas várias vertentes afetadas.
Iniciamos diretamente, ou através de estruturas supramunicipais como sejam a CIMRL ou a Associação Terras de Sicó, comunicações com alguns ministérios e instituições relacionadas, como sejam o ICNF, a APA ou a DRAP para que possam ser criados e dotados os mecanismos financeiros que permitam fazer face aos prejuízos causados. Assim, o plano para mitigar os impactos desta situação passa por fazer um apoio direto às situações emergentes, negociar com o estado central a criação de instrumentos de recuperação e caso se torne necessário a criação de um fundo municipal específico para apoiar a população afetada.

O Alv.: – Que mensagem gostaria de transmitir à população Alvaiazerense?

JG.: – Por último, mas talvez o mais importante, impõe-se um enorme e sentido agradecimento a todos quantos dia após dia, enfrentaram este flagelo, zelando pela proteção de toda a população, muito em particular aos Bombeiros (em especial os BVA), GNR, Militares, sapadores florestais, INEM e profissionais de saúde, IPSS´s do Concelho, Cruz Vermelha de Alvaiázere, GOFOA e outras associações do concelho, bem como de todas as empresas e voluntários que prontamente se disponibilizaram para ajudar. A todos deixo um sentido agradecimento, pela forma abnegada como se bateram pela segurança dos alvaiazerenses. Ao bombeiro da nossa corporação que ficou ferido no combate aos incêndios e desejo as rápidas melhoras.
Aos Presidentes de Junta, Autarcas de Freguesia e aos Técnicos do Município de Alvaiázere que foram incansáveis e estiveram permanentemente no terreno, em apoio ao combate aos incêndios, mas também em toda a logística que foi necessário montar para proteger, apoiar e acolher as pessoas afetadas.
Uma palavra de enorme reconhecimento e ânimo à população que se mobilizou e que deu o melhor de si no apoio aos outros e na defesa dos seus bens, animais e habitações, no combate e ações de vigilância do território.
A resiliência, força, coragem e espírito de união que caracterizam os Alvaiazerenses e que tanto se manifestaram nestes últimos dias de terreno, permitiram ultrapassar as adversidades. É com esse mesmo espírito que vamos continuar atentos e vigilantes e muito rapidamente ajudar todos a recuperar.
Muito obrigado a todos!

O Alv.: – Obrigada