Na tarde do dia 14 de novembro, a Junta de Freguesia de Maçãs de Dona Maria inaugurou as obras de requalificação da antiga escola primária feminina da Vila, espaço construído em 1926. A soalheira tarde convidou à saída das pessoas, tendo-se juntado na antiga praça da freguesia um significativo grupo de pessoas ansiosas por ver, com os seus próprios olhos, as obras realizadas naquele quase centenário edifício.
A cerimónia teve a presença do Presidente da Câmara Municipal, João Guerreiro, que confessou ter por aquele espaço muita afeição, pois foi ali que começou a aprender a tocar viola. Após o descerramento da placa de inauguração, os participantes tiveram oportunidade de visitar o espaço recuperado onde se encontrava uma pequena réplica de uma escola do Estado Novo, gentilmente cedida pelo Museu Municipal de Alvaiázere. Associada a esta sala de aulas onde se prevê vir a funcionar como um espaço de exposições temporárias, as obras geraram um magnífico espaço envidraçado, com uma vista deslumbrante, que se encontra por cima das novas casas de banho públicas. No rés do chão do edifício, onde outrora foi a sede da Junta de Freguesia e de um Julgado de Paz, foram criados alguns gabinetes que se encontram disponíveis para arrendamento.
Após este avivar da memória das senhoras com mais idade que frequentaram aquela escola, a tarde cultural prosseguiu com a participação de crianças e jovens da Escola de Dança Diogo Carvalho, de Leiria. Fundada em 2007 naquela cidade pelo bailarino que lhe deu o nome, esta escola tem conseguido formar muitos bailarinos, tornando a dança um hobby de rigor, ao mesmo tempo que tem colaborado em várias atividades culturais e de solidariedade social. E no recinto de festa, Maçãs de Dona Maria foi bafejada pela sorte de assistir a extraordinário espetáculo variado de bailado, onde lado a lado atuaram alunos de tenra idade, até executantes de elevada qualidade artística.
Lançamento do livro “CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DO ENSINO PRIMÁRIO EM MAÇÃS DE DONA MARIA”
De seguida Já com a tarde a arrefecer, muitos dirigiram-se para o Auditório da Junta de Freguesia para assistir ao lançamento do livro “Contributo para a história do ensino primário em Maçãs de Dona Maria”, da autoria de Carlos Laranjeira Craveiro. Destacamos o que afirma o autor na contracapa da obra: «A origem do ensino das primeiras letras em Maçãs de Dona Maria pode ser encontrada em 1800, sendo notório o esforço da Câmara do Concelho e, mais tarde, da Junta da Paróquia, para proporcionar as condições mínimas para o funcionamento deste grau de ensino: primeiro, a construção e apetrechamento das “casas da aula” para o sexo masculino; depois, em 1900, a abertura da sala de aula do sexo feminino; e, paralelamente, a garantia de colocação e residência para os seus professores.
Nos anos trinta do século XX, a freguesia assistiu a uma explosão da população escolar e, nas décadas seguintes, a uma modernização do parque escolar. Em mais de dois séculos da história desta freguesia, muitos foram os problemas, as contestações, as peripécias e os jogos de poder em torno do ensino público e instrução popular, acompanhando as convulsões políticas e os conflitos caraterísticos de uma localidade viva.»
Tudo corria bem, quando o autor foi interrompido por dois presentes: o Manuel e a Albertina, duas hilariantes personagens de teatro humorístico, ligadas ao Rancho Folclórico de Alviobeira, que a seu jeito entreteve o público, retirando o tom sério que a conversa tinha tido até então.
Depois da apresentação do livro, o autor tomou a iniciativa de convidar algumas professoras presentes na sala e antigos alunos para se dirigirem ao palco para ali ocorrer um diálogo que elucidasse os mais novos do que foi a realidade da escola primária de outros tempos na freguesia. Assim foi possível ver um grupo de professoras que passaram pelas secretárias das escolas da freguesia, umas com mais anos, outras mais jovens: a professora Maria do Carmo e a sua filha professora Beatriz Rodrigues, a professora Áurea Marques e a professora Lília Miranda. Da parte dos alunos, foram convidados dois antigos elementos: o Dr. Álvaro Pinto Simões (também filho da professora Maria José Pinto que lecionou na escola agora requalificada) e a Dª Adelaide. Cada um teve oportunidade de fazer um breve depoimento que depressa passou a um profícuo diálogo sobre tempos passados. A conversa não poderia terminar sem uma forte salva de palmas a todos os professores que serviram na freguesia, já que esta cerimónia também se destinava, de alguma forma, a homenagear os professores e as professoras da freguesia.
Após este gesto de gratidão que encerrou a apresentação deste livro emblemático para a história da freguesia e da educação, já o sol se tinha posto e o frio teimava em ficar, mas ninguém arredaria pé, até porque ainda havia de ocorrer um divertido espetáculo musical pelo “Grupo de Concertinas da Casa do Benfica de Vila de Rei” ao mesmo tempo que as pessoas sujavam as mãos ao descascar as castanhas do magusto popular, oferta da Junta de Freguesia.
Marcos históricos da Escola
1886: a Junta da Paróquia toma a iniciativa de construir uma nova sala de aulas anexa à escola então existente destinada a escola para as crianças do sexo feminino;
1894: apesar das diligências junto da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos e da abertura do governo para a generalização destas escolas femininas, a sala de aulas mantinha-se fechada, tendo ali sido transferido, provisoriamente, a sede da Junta da Paróquia que até então funcionava numa sala da Igreja paroquial;
1898: a sala destinada a escola feminina foi demolida pela Câmara Municipal de Alvaiázere para ali surgir uma nova “Casa da Aula” (sala mista);
1899/1900: início das aulas da classe feminina numa casa oferecida temporariamente por Manuel Simões de Abreu, provavelmente, numa das casas viradas para o Adro;
1902: aquisição de um velho edifício existente no local onde foi erguida, mais tarde, a nova escola feminina;
1905: transferência da escola feminina para a casa adquirida pela Junta da Paróquia;
1909: encerramento temporário da escola do sexo feminino por falta de retretes e de vedação;
1914: a professora Maria Benedita de Sousa reage firmemente junto da Junta de Freguesia, exigindo a urgente reparação do edifício escolar que ameaçava ruína;
1926: por inércia do governo, a Junta de Freguesia toma a iniciativa de, a suas expensas, iniciar a demolição do edifício onde funcionava a escola primária feminina, e reconstruir um novo espaço escolar, reservando o rés-do-chão do novo edifício para nele se instalar a sede da Junta de Freguesia. A adjudicação desta obra foi entregue ao canteiro Joaquim Nunes, residente na Mata do Cepo, na freguesia de Rego da Murta, pela quantia de 8 475$00, acrescendo 1100$00 pela construção do passeio e calçada anexa ao edifício, tendo ficado reservada para outra ocasião a construção dos muros de vedação da escola, algo que nunca veio a acontecer;
1957: encerramento da escola feminina da Praça que foi transferida para o Complexo Escolar dos Currais (Bairro Escolar)
Neste espaço, nos anos noventa, viria a ser instalado um Jardim de Infância que ali funcionou até à abertura do Centro Escolar em 2012.