Soraia Lima é uma jovem alvaiazerense de 20 anos, que desde pequena sonhava em fazer voluntariado. Em maio de 2013 rumou a Inglaterra para tirar um curso de preparação para voluntária e em junho deste ano, fez as malas e viajou para Moçambique para a sua primeira experiência de voluntariado, integrado nas missões solidárias da Organização Não Governamental (ONG) Humana People to People. O voluntariado tem a duração de seis meses, por isso a 10 de dezembro volta para Inglaterra e no final do ano regressa a Portugal.
"Tudo começou há quase dois anos quando o meu pai me mostrou uma página de voluntariado em África e na Índia", começou por explicar Soraia Lima, adiantando que na altura estava a estudar na universidade, pelo que refletindo sobre o valor de uma licenciatura em Portugal, não hesitou e decidiu que "seria uma boa altura para largar a rotina e viver uma nova experiência", sobretudo quando essa experiência correspondia a "algo que sempre quis fazer".
Assim, inscreveu-se e, em maio de 2013, embarcou sozinha para Inglaterra onde tirou o curso de "Instrutora de Desenvolvimento", isto é, um curso de preparação para voluntária. Cerca de um ano depois, no início de junho deste ano, fez as malas e rumou para Moçambique, juntamente com um rapaz lituano que conheceu em Inglaterra, para uma missão de voluntariado cujo objetivo é promover e desenvolver a educação.
Em Moçambique, Soraia Lima trabalha sobretudo com crianças dos 3 aos 15 anos. O seu dia-a-dia é passado na escola principal da comunidade a fazer trabalho informático, dar aulas de inglês/português e a ajudar no que for preciso. Mas também ajuda a comunidade, fazendo "de tudo um pouco, porque, aqui, em tudo é preciso fazer-se um bocado mais todos os dias, o que acaba por ser bom, uma vez que os meus dias nunca passam pela rotina".
Soraia Lima está há dois meses na região de Gaza, mais especificamente em Nwacoluane, Chokwé. Aqui, Soraia veio encontrar uma realidade "difícil, mas não tanto como outras zonas de África". "A fome aqui não é extrema, eles alimentam-se à base de arroz, shima (uma espécie de farinha que fazem através da mandioca) e feijão, quando há algo para comemorar lá se vê um carapau e com muita sorte frango", explicou Soraia, adiantando que "aqui não passam fome, só não têm toda a nutrição que o corpo pede, pelo que começam a desenvolver doenças, não só pela falta de nutrição mas também pela falta de higiene". Doenças como malária, cólera, VIH e febreamarela são comuns nesta zona, mas também no resto do país. "Já assisti a crianças caírem no chão, inúmeras vezes, com fome e com sede", mas "o principal problema é o calor e o trabalho árduo que acaba por matar o corpo pouco a pouco".
Com vista a solucionar o problema da alimentação pobre em nutrientes, esta alvaiazerense começou a implementar na escola principal da comunidade uma espécie de horta, de onde já podem retirar alguns legumes. Contudo, estes legumes chegam apenas para os alunos da escola, por isso Soraia está agora a dar lições à comunidade de como plantar, o que plantar e onde plantar para que "em pouco tempo eles tenham, finalmente, acesso a uma alimentação mais variada e assim mais saudável e nutrida".
Quando chegou a Moçambique, Soraia Lima ficou impressionada com a "alegria imensa" e a "grande força de viver" que os moçambicanos têm, "apesar de todos os problemas com que se confrontam diariamente". Por outro lado, esta alvaiazerense ficou chocada com "o 'sistema de lixo' que não existe, de todo", pois, "seja em comunidades ou em grandes cidades, não há sítios para meteres o lixo, simplesmente metes num monte qualquer na rua, para mais tarde ser queimado".
Para Soraia Lima, as ações de voluntariado em Moçambique são importantes para "desenvolver as pequenas comunidades e o pensamento das pessoas", na tentativa de, "pouco a pouco, se conseguir construir uma economia mais forte e um pensamento mais coerente em questões básicas do dia-a-dia".
Quanto ao povo moçambicano, esta voluntária considera-o "lento, mas um povo maravilhoso". "As mulheres têm uma força incrível, trabalham todos os dias e todas as noites, são fortes, bem-dispostas, simpáticas e estão sempre prontas a ajudar". Já os homens "são simpáticos, mas um bocado preguiçosos no que toca ao trabalho, e as crianças são o melhor que já experienciei, estão sempre a brincar e a sorrir, arranjando diversão onde nós nunca a conseguiríamos descobrir". Obviamente que esta realidade refere-se apenas a pequenas vilas/ comunidades, pois nas grandes cidades, provavelmente, a realidade é outra, porque existe imenso comércio e turismo.
Dois meses após começar a sua primeira experiência de voluntariado, Soraia Lima confessa que "não trocaria esta experiência por nada" e garante que é uma experiência que pretende repetir no futuro, mas noutros Continentes. "Mudei muito como pessoa, cresci bastante e os meus horizontes ficaram sem limites", revelou esta alvaiazerense, aconselhando por isso a vivência de experiências como esta a outros jovens.