Fez uma análise do trabalho desenvolvido, destacando as boas relações com a direção, em especial com o seu presidente, e o orgulho que sente de todos os operacionais, pelo empenho e forte sentido de responsabilidade e dever cumprido em prol dos outros…
“O Alvaiazerense” (O Alv.) – Quantos cargos já desempenhou na AHBVA e qual a duração destes?
Mário Bruno (MB) – Entrei para os Bombeiros em 1996 como Aspirante, sendo promovido a Bombeiro de 3ª em 2001.
Em 2005 assumo o cargo de Adjunto de Comando até novembro de 2015 onde assumo cargo de Comandante em regime de substituição até maio de 2016, data em que sou nomeado Comandante, cargo que ocupo até aos dias de hoje.
O Alv.: – Que balanço é possível fazer do trabalho desenvolvido como comandante dos BVA?
MB.: – Não devo ser eu a fazer a avaliação do trabalho desenvolvido. Esse trabalho compete acima de tudo à Direção, ao meu Corpo Ativo e Quadro de Honra e à População que todos os dias servimos.
Mas seria desonesto não dizer que me sinto muito honrado pelo trabalho que foi desenvolvido nos últimos anos em prol da Associação que tenho o prazer de Comandar.
As obras de requalificação do quartel, a melhoria e renovação permanente da frota de veículos quer sejam de combate a incêndios quer sejam no transporte de doentes, a disponibilidade de equipamentos de proteção individual, equipamentos estes que considero indispensáveis à Nossa missão, a qualidade e quantidade do processo formativo entre outras vertentes, têm ao ser todas somadas, um resultado positivo que me leva a considerar a minha comissão como Comandante dos Bombeiros Voluntários de Alvaiázere satisfatória. Mas ainda há muito por fazer. Mas estou cá para esses desafios.
Mas deixe-me referir que tudo isto foi possível, devido à permanente articulação entre Comando e Direção, onde quero destacar o Presidente Joaquim Simões por ainda ter “paciência” para as minhas exigências. Se coisas boas levo do cargo que ocupo, a amizade e o prazer de trabalhar com o Presidente são sem dúvida nenhuma uma das mais importantes.
O Alv.: – Como lida com o permanente desafio emocional desta missão?
MB.: – “O Homem também chora quando assim tem de ser”.
Nunca o nome da música do Pedro Abrunhosa fez tanto sentido. A Nossa Nobre Missão infelizmente está ligada ao sofrimento, quer seja da população quer seja de um de Nós.
Um Bombeiro sente a dor de quem assiste como sua, o sofrimento de quem salva como seu.
Um exemplo. Os últimos tempos devido à pandemia, foram terrivelmente marcantes para todos. No início não sabíamos ao que íamos, era tudo novo e não havia respostas científicas para o que aí vinha. Mas como sempre dissemos “presente”. Se existe alguém que foi a linha da frente, esse alguém foram os Bombeiros, pois as pessoas para irem para o hospital, já tinham passado “pelas nossas mãos” pois eramos Nós que as transportávamos.
Quando todos ficavam em casa, Nós saímos. Quando era exigido isolamento nós abandonávamos as Nossas famílias para socorrer as outras. E este desafio permanente causa um desgaste emocional enorme. Mas os Bombeiros tudo ultrapassam, pois, a nossa matriz é mesmo essa, salvar quem precisa sem olhar a quem.
O Alv.: – O corpo ativo que comanda é composto por quantos elementos?
MB.: – O CB de Alvaiázere de momento é composto por 75 elementos do Quadro Ativo, uma escola de estagiários com 10 elementos onde 5 integrarão o Quadro Ativo até ao verão.
Contamos atualmente com 19 profissionais, dez dos quais nas equipas de intervenção permanente, com uma auxiliar de serviços gerais e uma administrativa/ telefonista.
Temos igualmente uma escola de infantes e Cadetes com 51 elementos e um quadro de Honra com 28 elementos.
O Alv.: – Acha que seja um número suficiente face ao número de serviços que prestam?
MB.: – Num Concelho de baixa densidade como o de Alvaiázere, não é fácil e devido também à disponibilidade que é exigida, ter tantos Bombeiros.
Estou muito satisfeito com os que tenho, não pelo número de Bombeiros existentes, mas sim pelas suas qualidades humanas e técnicas.
O Alv.: – E o parque automóvel, de que dispõem neste momento é suficiente?
MB.: – Sim, embora haja necessidade de renovar 2 veículos de transporte de doentes não urgentes que devido à quantidade de Km efetuados, já começam a passar tempo a mais nas oficinas.
Neste momento temos a seguinte frota:
Veículos de combate a incêndios florestais – 7
Veículos de combate a incêndios urbanos – 2
Veículos de apoio de combate a incêndios – 3
Veículos de comando – 2
Veículo de desencarceramento – 2
Veículos de transporte de doentes urgentes – 4
Veículos de transporte de doentes não urgentes – 9
A frota especialmente no que toca ao combate de incêndios florestais já apresenta alguns anos, mas a cuidadosa manutenção anual das viaturas permite que as suas condições de trabalho e acima de tudo de segurança, tenham performances bastantes satisfatórias.
Comprar um veículo novo implica no mínimo um investimento de cerca de 180.000 €, o que compreende não é fácil dispor.
O Alv.: – Depois dos grandes incêndios de 2017, acha que houve uma mudança significativa, que nos possa garantir não sermos confrontados com uma tragedia idêntica?
MB.: – Infelizmente não.
Mas também nós enquanto cidadãos temos obrigações e responsabilidades neste capítulo. Hoje é comum deixar para os outros o que nos compete a nós fazer. Existe na sociedade uma permanente desresponsabilização das nossas obrigações. Por exemplo. Muitas vezes deparo com autênticos bosques junto às habitações sem que os proprietários procedam à respetiva limpeza. Quando falo com os mesmos para os riscos que isso acarreta, dizem-me que a Junta ou a Câmara é que tem de limpar. Não é assim. Nós enquanto cidadãos não nos podemos isolar das nossas responsabilidades e deveres. Depois quando correm mal as coisas foram os bombeiros que não conseguiram apagar o incêndio.
É preciso implementar na sociedade regras de prevenção. Esse é o maior trunfo para que tragédias como as do ano de 2017 não ocorram novamente.
Também o poder central tem falhado neste capítulo no que toca aos Bombeiros. Enquanto outras forças como a UEPS da GNR, a FEPC da AENPC têm equipamentos e veículos fornecidos (e bem) pelo Estado, os bombeiros estão entregues à generosidade da sua população e acima de tudo dos Municípios.
Tenho referido muitas vezes e porque é verdade, que se não fosse o Município de Alvaiázere, não poderíamos ter as condições e não poderíamos socorrer com a eficácia que temos hoje em dia.
O Alv.: – O SIRESP é uma preocupação para si?
MB.: – Nem por isso. Alvaiázere dispõem de um canal próprio de comunicação via rádio, que equipa os principais organismos de proteção civil do Concelho. E por isso se falhar o SIRESP temos alternativas.
O Alv.: – Como classifica a intervenção dos Bombeiros Voluntários no sistema de proteção civil?
MB.: – Os Bombeiros de Portugal são principal agente de proteção civil do País.
São os Bombeiros que respondem a mais de 97% das intervenções nas áreas da saúde, combate a incêndios, salvamentos, cheias e inundações, buscas e salvamentos, socorros a náufragos, etc.
Destes, 93% são efetuados por Bombeiros Voluntários. Se dúvidas existissem quanto à Nossa importância no sistema de proteção civil Nacional estes números esclareceriam os mais céticos.
No que toca à vertente Municipal isso então, nem se fala. Os Bombeiros estão em todo o lado a dar respostas e soluções aos problemas diários da população.
O Alv.: – Ao longo da sua carreira nos BVA sentiu alguma vez vontade de desistir?
MB.: – Nem por um segundo sequer…
O Alv.: – Que mensagem gostaria de deixar à população alvaiazerense?
MB.: – Acima de tudo, de agradecimento por estarem sempre ao nosso lado quando mais precisamos. Por quase sempre entenderem que se não fizemos mais, foi porque não conseguimos e jamais porque não quisemos.
Que nos ajudem dentro das Vossas disponibilidades pois tudo aquilo que fizerem por Nós, mais tarde ou mais cedo vai reverter a Vosso favor.
Um apelo. Nunca critiquem um Bombeiro. Se tiverem alguma coisa a apontar ou culpabilizar, que imputem essas culpas a mim mesmo, pois sou eu o responsável pelo que fazem, quer bem quer mal.
Os Bombeiros, são Mulheres e Homens que deixam o seu conforto, a sua família para estar dia após dia ao seu dispor e por isso devem acarinhados por tal atitude.
São o melhor que este Concelho tem. Orgulhem-se dos Vossos Bombeiros, pois eles são dignos desse crédito. Nós também temos muito orgulho em vos poder servir.
Aproveito igualmente e como estamos em ano do cortejo de oferendas, para apelar mais uma vez à benevolência e generosidade da população de Alvaiázere e a todas e todos os leitores do Jornal Alvaiazerense espalhados pelos quatro cantos do Mundo, para que ajudem dentro das suas possibilidades os seus Bombeiros, pois cada euro que nos derem será revertido para o bem da população de Alvaiázere, pois é para ela que diariamente trabalhamos afincadamente.
Uma palavra de agradecimento para as famílias dos Nossos Bombeiros. São eles e elas o Nosso verdadeiro pilar, que nos encorajam para fazermos mais e melhor. Sem o seu apoio tudo o que fazemos seria praticamente impossível. Também eles são heróis e heroínas “sem farda”.
Por fim desejar saúde e alegria a todos. Um bem haja.
O Alv.: – Obrigada