PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

No concelho só Maçãs de Dona Maria comemorou a República e recordou um dos seus fundadores

No passado dia 4 de outubro, Maçãs de Dona Maria voltou às palestras após vários meses de interrupção devido à pandemia da Covid-19. O Auditório da Junta de Freguesia, foi pequeno, no contexto das limitações impostas pela DGS, não permitindo que todos os que ocorreram ao local participassem.

Estávamos na véspera da comemoração dos 110 anos da Implantação da República em Portugal e a vila de Maçãs de Dona Maria decidiu associar-se a esta efeméride. Por isso, as palestras eram alusivas a esta temática: “A Primeira República Portuguesa” por Manuel Augusto Dias e “João Augusto Simões Favas – Um Lutador pela República” por Élio Marques.

Foi uma tarde de domingo com duas interessantes e elucidativas palestras seguidas de uma ida ao cemitério oitocentista desta Vila para deposição de uma coroa de flores no jazigo de João Favas, republicano, maçon e carbonário que esteve, desde a primeira hora, na linha da frente do movimento revolucionário de Coimbra, para a implantação da República em Portugal.

O primeiro orador foi Manuel Augusto Dias, investigador da Primeira República e com vários livros publicados sobre a República, os republicanos de Ansião e de outras localidades do país, que falou das causas que levaram à destituição da Monarquia e das figuras cimeiras da Implantação da República. Depois passou em revista muitos dos republicanos históricos do vizinho concelho de Ansião, entre eles Vitorino Henriques Godinho e José Cordeiro Júnior, que estiveram envolvidos no movimento revolucionário, em Lisboa, nos dias 4 e 5 de outubro; Adolfo Figueiredo, filiado no Partido Republicano, que proclamou a República em Ansião, tendo sido quem mais tempo ocupou o cargo de Governador Civil de Leiria durante a República; José Augusto de Medeiros, também filiado no Partido Republicano, Presidente da Câmara de Ansião, que exerceu esta função durante mais tempo, no referido período. Ainda lembrou outras figuras de Ansião, apesar de mais conservadoras e apartidárias, designadamente os Dr. s Alberto Rego, Rosa Falcão e José Pereira Barata.

Seguiu-se Élio Marques, um dos dinamizadores desta comemoração, e de forma motivadora e didática, centrou a sua palestra na figura ímpar de João Augusto Simões Favas, que nesta Vila teria nascido em 1858 e falecido na sua Quinta da Boa Vista a 20 de janeiro de 1939. O palestrante referiu que a sua principal atividade foi a de comerciante e que, em 1908, já era um dos 20 maiores pagadores do imposto industrial no concelho de Coimbra, ou seja, um dos 20 maiores comerciantes deste concelho. De enaltecer esta sua dimensão comercial, assim como a sua dimensão social e política, que não é menor. Na cidade do Mondego casou, na manhã de 31 de janeiro de 1891, com uma descendente da nobreza de Maçãs, mas, logo neste mesmo dia, já participava no comité revolucionário de Coimbra no apoio à revolta do Porto, considerada a 1ª manifestação republicana. Em Coimbra fundou, dirigiu e apoiou várias instituições políticas e de apoio social e escolar. Como republicano e membro da Carbonária Portugália, em 1910, deslocou-se várias vezes a Lisboa para reunir com os revolucionários da capital, designadamente com os notáveis Doutores, António José de Almeida, Afonso Costa e João Chagas. Na véspera da Revolução (4 de outubro de 1910) foi incumbido pelo Comité revolucionário de Coimbra de voltar a Lisboa para nova reunião. Acabou por assistir à proclamação da República, na varanda dos Paços do Concelho de Lisboa, por José Relvas e regressou a Coimbra como mensageiro da boa nova, onde chegou pelas 4h30m da madrugada do dia 6 de outubro. Neste mesmo dia, pelas 14 horas, foi proclamada a República nos Paços do Concelho de Coimbra, onde João Favas viria a desempenhar funções autárquicas entre 1911 e 1913. Na sua terra-natal, além de ter colocado a Quinta da Boa Vista ao serviço da revolução republicana, guardando lá grande quantidade de material bélico, também participou na resolução de problemas de analfabetismo e outros; mesmo assim, era criticado pelos seus conterrâneos, talvez pela grande influência da Igreja, adversa à República.

O evento terminou no cemitério oitocentista desta Vila com a colocação de uma coroa de flores, pela Junta de Freguesia de Maçãs de Dona Maria, no jazigo onde repousam os restos mortais, desde 1939, deste fundador da República, João Augusto Simões Favas, em merecida homenagem.

A concluir a cerimónia, com a presença do vice-Presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, Agostinho Gomes, foi tocado o Hino Nacional, um dos símbolos maiores da República Portuguesa.