“Um concelho que não sabe valorizar o seu passado e a sua história é um concelho sem futuro. Felizmente temos tantas entidades, individuais e coletivas, a quem agradecer”. Foi desta forma que Célia Marques, presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, enalteceu o povo alvaiazerense, a sua história e a sua identidade no dia 13 de junho, dia do Concelho.
José Eduardo Simões Baião, “o benemérito, o advogado, o governador civil”, foi homenageado, a título póstumo, com a Medalha Municipal de Mérito, entregue ao seu familiar, Fernando Cortez Pinto Seixas. Desta maneira, a autarca exaltou todos quantos pela sua “dedicação e empenho contribuíram para que hoje Alvaiázere seja o que é”.
“Devemos ter orgulho nas nossas raízes, no nosso passado, mas também naquilo em que nos transformámos, por ação de muitos que contribuíram para esta terra, com o seu trabalho, com a sua dedicação, o seu saber e até à sua influência”, afirmou.
A cerimónia oficial abriu com a atuação do Coro Infantil de Alvaiázere e teve lugar na Casa Municipal da Cultura, onde a autarca discursou perante um auditório quase repleto, partilhando com todos o trabalho realizado pelo Executivo Municipal. “O Município submeteu já 20 candidaturas ao quadro comunitário de apoio Portugal 2020 perfazendo o valor total de investimento de aproximadamente 6 milhões de euros”, em áreas distintas como a regeneração urbana, a eficiência energética, o património natural e o ciclo da água. “Estão aprovadas a Loja do Cidadão, a Plataforma Empresarial de Alvaiázere, a obra de beneficiação e alargamento da Zona Industrial de Tróia, a intervenção na envolvente ao Tribunal, o Centro de BTT, o cadastro das infraestruturas no sistema ERSAR, a Beneficiação das Piscinas Descobertas de; 4 projetos conjuntos da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, nomeadamente o projeto da rede cultural, o projeto Educa & Cloud, o projeto dos Produtos Turísticos Integrados e o Plano inovador de combate ao insucesso escolar e, ainda, 1 projeto no âmbito da estratégia de desenvolvimento local concebida pelo grupo de ação local Terras de Sicó, a rede de aldeias do calcário”, explanou a autarca. Ainda em preparação está a submissão de uma candidatura para a criação da nova Zona Industrial de Rego da Murta, “estimando um valor de investimento aproximado de 1 milhão e setecentos mil euros”. Ainda neste terceiro trimestre, o Município pretende submeter candidaturas no âmbito da “regeneração urbana, melhoria das condições de acessibilidade suave, eficiência energética e património natural”, mais concretamente com a criação de um parque botânico na Mata do Carrascal.
Mas “Alvaiázere é mais do que espaço físico, infraestruturas ou edificado”. Célia Marques acrescentou que “Alvaiázere é paisagem, é serra, é carvalho cerquinho, é artesanato, é etnografia, é história, é religião, é cantares, é romarias e gastronomia”.
Falando com orgulho do programa “Alvaiázere+”, referiu que através do mesmo se têm desenvolvido sessões de divulgação de apoios comunitários, sessões de formação, apoios aos jovens que estão a iniciar atividade profissional no concelho, cedência de espaços na incubadora ou até visitas de acompanhamento. “Até ao momento foram já apoiados 15 jovens que iniciaram a sua atividade económica no nosso concelho, foram concretizados 15 contratos de incubação e foram já concedidas 6 isenções de taxas a empresas que realizaram obras urbanísticas”, disse a edil.
Com o objetivo de “fortalecer a relação com todos os alvaiazerenses emigrantes”, o Município criou ainda, no final do ano passado, o Gabinete de Apoio ao Emigrante. “Todos representam e constroem diariamente esta identidade alvaiazerense. Os que aqui vivem, os que sentem este concelho como sendo seu, mas também os espalhados por todo o mundo, nos mais diversos territórios, onde são, seguramente, importantes embaixadores de Alvaiázere”. E é precisamente a construção desta identidade que leva Alvaiázere a festejar, ano após ano, o Dia do Concelho. “Hoje celebramos a nossa comunidade”. Foi desta maneira que Célia Marques terminou a sua intervenção, apelando a todos que celebrassem a comunidade com o “envolvimento das coletividades locais, com o envolvimento dos funcionários da Câmara Municipal que tanto dão de si, com o envolvimento da população”.
Para o presidente do Turismo do Centro de Portugal, Pedro Machado, que também esteve presente nesta cerimónia, o caminho é mesmo este, o de afirmação de Alvaiázere como destino turístico. “A estratégia de um município que alavanca a modernidade e a contemporaneidade em pilares tão sólidos como aqueles que são inigualáveis e irrepetíveis só pode estar sujeita ao sucesso”, referiu. Pedro Machado frisou ainda que os “turistas procuram cada vez mais o luxo do século XXI, ou seja, a segurança, o tempo e o silêncio”.
Finda a cerimónia oficial, seguiram para o Museu Municipal, onde foram inauguradas duas novas exposições: uma permanente de arqueologia “Fragmentos em diálogo” e outra temporária “Ser soldado”, no âmbito do Centenário da Grande Guerra, do colecionador Célio Dias. O corte do bolo do 12.º aniversário do Museu e o espetáculo “Amor de Margarida”, com teatro e música de rua, fecharam em beleza as cerimónias de um dia que pretende ser muito importante para todos os alvaiazerenses.
Biografia de José Eduardo Simões Baião
José Eduardo Simões Baião nasceu a 30 de março de 1851 em Jordões, freguesia de Pussos. Era filho de José Simões Baião e de Theresa Maria e irmão de António Simões Baião e de Francisco Simões Baião (presidente da Junta de Freguesia de Pussos, de 5 de janeiro de 1890 a 2 de janeiro de 1893 e de 2 de agosto de 1914 a 25 de março de 1918).
Foi batizado na Igreja Paroquial de Pussos a 22 de abril de 1851, tendo sido apadrinhado pelos seus avós maternos. Não há dados sobre a sua passagem pela instrução primária, sabendo-se que ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra em 1871, tendo concluído o curso de Direito em 1875/1876. No 2º ano do curso foi premiado e declarado aluno distinto; voltou a ser distinguido como aluno exemplar no ano letivo 1873/1874.
Não havia, na maioria das famílias capacidade financeira para garantir uma educação superior aos seus educandos, ficando-se alguns pela instrução primária e outros nem sequer se chegavam a sentar nos bancos da escola. De facto, o pai de José Baião era um homem com algumas posses. Sendo uma família desafogada financeiramente, permitiu que José Baião prossegui-se os seus estudos académicos na cidade de Coimbra.
Após ter concluído o curso abriu banca de advogado na vila de Ansião. Saiu desta vila para exercer funções como administrador dos concelhos de Pombal e Ansião, onde continuou a desenvolver trabalho no âmbito da advocacia.
Levado para a política pela mão de João Franco, de quem era amigo pessoal, militou sempre no Partido Regenerador, mesmo após a saída daquele para formar o Partido Regenerado. Foi nomeado secretário dos Hospitais Civis de Lisboa, deixando esse lugar para ocupar o cargo de Governador Civil de Santarém entre 2 de julho de 1900 e 26 de outubro de 1904.
Mais tarde foi ocupar o cargo de Auditor Administrativo do Distrito de Lisboa. Ainda durante o seu percurso político foi eleito deputado pelo círculo de Leiria em várias legislaturas, tendo pertencido à Câmara – chamada à época de “Solar dos Barrigas”.
Como advogado tinha foros de sabedor, designadamente no campo do Direito Administrativo, em que se tinha especializado, chegando mesmo a ser considerado uma das pessoas mais entendidas nessa área de Direito.
Como Governador Civil de Leiria manteve- se naquela cidade a exercer o cargo entre 30 de julho e 6 de outubro do mesmo ano. Mesmo durante este curto espaço de tempo deixou, não apenas neste lugar, mas em tantos outros, um rasto de simpatia, profissionalismo e prestígio.
Foi exonerado do cargo, por razões meramente políticas, conforme despacho publicado no Diário do Governo nº 17 de 25 de outubro de 1910. Sendo fiel à causa monárquica, com o advento da República retirou-se da ribalta política, recolhendo-se na sua residência de Cabaços.
Foi, devido à reorganização da causa monárquica, escolhido pela Comissão Distrital de Leiria para vice-presidente da mesma.
Em toda a sua vida são conhecidos vários episódios que mostram a garra, determinação e amor pela sua terra. São exemplo disso: Mercado do “Cabaço” e o relógio da Igreja Paroquial de Pussos. Apesar de passar mais tempo fora da sua terra do que nela, era nos Jordões e, mais tarde, em Cabaços que o conselheiro José Eduardo Simões Baião se refugiava e convivia com as pessoas da terra. Foi desse modo que se apercebeu da necessidade de um relógio para a Igreja Paroquial de Pussos.