“No princípio era o verbo. O verbo, os pronomes e substantivos, que em verso eram cantados por alunos, pais de alunos e amigos da Escola de Música Cardos, em coro, estranhamente divididos em naipes, e que o Maestro Paulo Serafim tentava ensaiar, na esperança de eventualmente afinar. Esse foi o princípio. Foi a semente que, a dois de fevereiro de 1996, germinou em forma de Escritura Notarial, nascendo a Alva Canto – Associação de Cultura. No princípio, foi o coro. 25 anos depois, continua também a ser o coro”. Assim se deu início ao “Concerto 25 Anos Alva Canto” realizado no passado dia 20 de novembro no auditório da Casa Municipal da Cultura de Alvaiázere.
Os muitos alvaiazerenses que quiseram associar-se a esta comemoração foram brindados com a atuação do Coral Alva Canto. A apresentação música a música e as referências ao maestro Serafim foram feitas com a colaboração de uma das valências da Associação, a secção de teatro “o Tal”, “Natal é quando o Homem quer, diz-se. E o maestro Serafim tem querido que todos os dias de concerto sejam assim uma espécie de Natal. São muitos os concertos do Coral Alva Canto que se iniciam com o Puer Natus In Bethlehem, de Henrikus Beginker. Hoje não poderia ser exceção. Quem ouve, nem sempre compreende. Cai-se na incerteza se a dissonância é propositada, ou resulta da eventual desafinação. Não é só quem ouve que fica na dúvida; muitas vezes quem canta também. É assim com Lopes-Graça, compositor que marca o repertório do Coral Alva Canto”. E foi com esta introdução que o público foi convidado a ouvir a canção popular harmonizada por Lopes-Graça: Ó Senhora do Amparo”.
Os apresentadores continuaram, “Em fevereiro de 2020 a atividade regular do Coro foi interrompida, só voltando a ser retomada em março de 2021. Neste período, o nosso maestro partilhou com o grupo, através das redes sociais, uma peça que inicialmente se estranhou, e depois se entranhou. O autor de Ubi Caritas é o norueguês Ola Gjeilo. Esta é a primeira peça ensaiada pelos mais recentes coralistas do Alva Canto, provenientes do Coro Infanto-Juvenil de Alvaiázere: Francisco Santos, Jéssica Lemos, Maria Guerreiro, Matilde Lourenço”.
Mais uma apresentação, “O repertório do Coro tem uma forte influência clássica, exceção feita aos últimos anos, desde 1996 que não há natal em Alvaiázere sem a devida solenização eucarística nesse período. Foram muitas as atuações em igrejas, e no concelho de Alvaiázere, já se cantaram em todas as paróquias”. Deste reportório apresentaram duas peças: Ave Verum Corpus, de Wolfgang Amadeus Mozart e Ave Verum, de Charles-Camille Saint-Saëns.
E continuaram, “O ecletismo do repertório do Coral Alva Canto leva-o a explorar diferentes épocas e tendências musicais. Exemplo disso é o Cantique de Jean Racine, de Gabriel Fauré”. Foi acompanhada ao piano por Joaquim Roberto, professor da Alva Canto Academia de Música.
O Alva Canto terminou a sua atuação com uma peça You Raise Me Up, de Brendan Graham e Rolf Lovland e arranjo de Roger Emerson, que ensaiou, antes do confinamento e estriou no Concerto de Ano Novo, em Maçãs de Dona Maria, a 19 de janeiro de 2020. Tendo sido esse o último concerto e o presente o primeiro após pandemia.
Após esta atuação foi apresentado o Coro Infanto-juvenil de Alvaiázere, “Ainda em 1996 a direção da Alva Canto decide dar início a um coro infantil. O Alva Cantinho, assim designado, estreia-se ainda nesse ano, com cerca de 35 elementos. Houve Alva Cantinho até 2004. Em 2018 a Alva Canto empenha-se em refundar um projeto cultural que convide os mais novos a experimentar a música coral. É estabelecido um protocolo de colaboração com o Centro Paroquial de Solidariedade Social de Alvaiázere, e a maestrina Joana Santos dá início ao então Coro Infantil de Alvaiázere, alicerçado nas crianças utentes do ATL de Alvaiázere. Hoje, o agora Coro Infanto-juvenil de Alvaiázere continua a ser constituído por crianças do ATL, mas também por outras crianças e jovens, entre os quais alunos das classes de conjunto da Alva Canto Academia de Música”. O Coro Infanto-juvenil de Alvaiázere atua e encanta e a sua participação revela um futuro promissor para o Coral Alva Canto.
O concerto contou com a atuação do coro da Canto Firme de Tomar. “No dia 16 de junho de 1996, pelas 16:30, no Cine Teatro José Mendes de Carvalho, acontecia o Concerto Coral, integrado na FAFIPA, a feira anual do concelho de Alvaiázere. Nesse dia, estreava-se o Coro Alva Canto, que teve a honra de ter como padrinho o coro que temos a honra de agora receber”. De seguida foi a vez de matar saudades numa atuação com os antigos coralistas, “Têm sido muitos. E se 25 anos depois a associação continua também a ser o coro, a estes tudo se deve. Porque entre entradas, saídas e regressos, sem coralistas, não há voz. E as vozes de hoje, com as vozes de ontem, juntam-se agora para reprimir a saudade. A saudade de tantas coisas, que não há voz que as expresse. Gentes do Alva Canto e do Alvacantinho: ao palco!”. E estes não se fizeram esperar.
No final a atuação com os antigos maestros foi um momento muito significativo e de agradecimento pelo trabalho desenvolvido ao longo destes 25 anos. “Paulo Serafim foi o maestro fundador do Coro Alva Canto. Iniciou os ensaios ainda em 1995, antes da fundação da associação, e esteve na direção artística até 1999. Mais tarde, em 2005, regressa. Nesse interregno, o Coro Alva Canto deve a sua continuidade a outras personalidades, a quem hoje também queremos prestar o nosso tributo.
António Simões assume a direção do Coral Alva Canto, após a saída de Paulo Serafim. A ele cabe a direção artística entre os anos de 1999 e 2003, destacando-se a implementação de um repertório de raiz popular e peças de autoria própria. Exemplo disso é a peça Palavra Perfumada, com poema de Filipe Antunes dos Santos. Com o Alva Canto, o maestro António Simões.
Dora Guerra já era coralista do Alva Canto e maestrina do Alvacantinho, à época o coro dos mais novos da associação. Com a saída de António Simões, em 2003, encarrega-se da direção artística do coro adulto, empenhando-se em trazer para o repertório do grupo coral algumas peças conhecidas da cultura popular. Uma delas é a que a seguir vai dirigir com o Coral Alva Canto. Convosco, Dora Guerra, a assumir a direção de Oh Happy Day, de Edwin Hawkins.
Pedro Pereira, já tinha uma relação próxima com a comunidade Alvaiazerense, tendo sido maestro da Banda Filarmónica. Essa ligação ao concelho leva-o a assumir em 2004 a direção do coro e a implementação de novas peças no repertório. Boiadeiro, de Luiz Gonzaga, e harmonização de Armando Cavalcanti é uma delas. Para a direção, Pedro Pereira”.
Num gesto simbólico de agradecimento foram entregues flores aos maestros e ex-maestros pelos antigos presidentes de direção e pelo atual.
Após este momento António Cardo recordou o maior impulsionador da fundação da Associação Alva Canto, Dionísio Lourenço, destacando ainda as suas qualidades enquanto membro de vários órgãos sociais da Associação e como coralista. Numa homenagem singela, mas sentida foi entregue um majestoso ramo de flores à esposa, Eunice Lourenço, acompanhado por uma grande ovação de palmas por todos os presentes.
O presidente da direção, Manuel Lourenço, agradeceu, visivelmente comovido, em seu nome pessoal e da família, este gesto de reconhecimento ao seu saudoso pai.
Agradeceu ainda a presença de todos os que estavam no palco e na plateia, referindo que o apoio e o carinho que sentem de todos é a certeza de que a Alva Canto tem uma missão a cumprir como agente cultural do concelho, pelo que irão continuar a trabalhar com o mesmo empenho e dedicação dos últimos 25 anos. Reforçou o agradecimento a toda a comunidade alvaiazerense e também à Câmara Municipal pelo apoio incondicional que tem dado a esta instituição permitindo superar as grandes dificuldades que foram sentidas ao longo da sua existência, como é apanágio deste tipo de associações culturais.
O Presidente da Câmara Municipal, João Guerreiro mostrou-se satisfeito com o trabalho desenvolvido pela Alva Canto, que desconhecia, tendo sido uma agradável surpresa verificar tantas crianças e jovens envolvidos nas várias vertentes desenvolvidas pela Associação, prometendo continuar a apoiar a Alva Canto.
Encerrou-se o Concerto com o Cânone final, dirigido pelo maestro Serafim, para os que se encontravam em palco e para os que estavam na plateia, cantando-se os parabéns, e para maior segurança de todos o bolo foi partilhado em caixinhas individuais, que cada um levantava ao sair deste concerto inesquecível.