A grande maioria dos nossos actuais governantes era criança, ou quando muito adolescente, à época da revolução de Abril de 1974. Não tiveram a percepção do anterior regime, nem das suas privações e restrições. Muito menos sentiram a ameaça de aos vinte anos serem "carne para canhão" numa guerra ilegítima e condenada ao insucesso. Após o 25 de Abril, o País recuperou a liberdade e a democracia, e infelizmente, o ponto mais negativo terá sido uma descolonização, não programada e injusta para milhares de famílias que se viram obrigadas a regressar, muitas delas apenas com a roupa que tinham vestida. Tal responsabilidade deveu-se aos governantes do antes 25 de Abril, que não souberam ou não quiseram ler os sinais dos tempos, fugindo a uma solução de compromisso com as colónias, que salvaguardasse os nossos interesses, tal como fizeram a maioria dos países europeus colonizadores. Apesar das pressões internacionais, era o tempo da teimosia do "orgulhosamente sós".
Durante os últimos trinta anos, a nossa história escreveu-se à volta de uma Europa que nos cativou para um nível de vida elevado e com perfil expansionista. Perspectivou-se uma Europa forte, coesa e solidária. Foram os tempos de incentivos e subsídios por tudo e por nada, para arrancar e plantar, tornar a arrancar e plantar de novo, dos jipes, carrões e formações. Contentes e felizes, estávamos "vaidosamente ricos".
Vários erros e equívocos, como os efeitos da globalização e o desinvestimento industrial, bem como rivalidades entre países, falta de solidariedade europeia, abusos e projectos megalómanos, conjuntamente com uma crise financeira especulativa, própria de casino, atirou-nos para o actual e afamado "ajustamento", para onde "os meninos de 1974", nos levam tão afincada e obedientemente, pelo que quarenta anos após a Revolução dos Cravos, chegámos aos tempos do "orgulhosamente pobres".
Ainda assim, apesar das voltas que a vida dá, a essência de Abril perdurará!