As Invasões Francesas constituíram um dos momentos mais dramáticos da História de Portugal.
Foi na terceira invasão que os franceses se confrontaram nesta região do norte do distrito de Leiria, mormente em Rego da Murta, a 30 de novembro de 1810, onde interveio o Regimento de Infantaria 11, comandado pelo Alferes António Maia, e, de novo, a 4 de dezembro desse ano, comandado pelo Tenente Barredo (Miguel Portela, "A Terceira Invasão Francesa no norte do Distrito de Leiria", Cadernos de Estudos Leiriense – 2, Textiverso, 2014, p. 195- 208).
Tendo por base o acervo documental das Invasões Francesas na diocese de Coimbra – coleção organizada pelo Coronel Belisário Pimenta que se conserva no Arquivo da Universidade dessa cidade -, conseguimos colher elementos que nos permitem revisitar esta região de Maçãs de Dona Maria nessa época.
Quando em março de 1811 os franceses iniciaram a sua retirada, e à medida que se deslocavam pelas diversas freguesias no norte do distrito de Leiria, cometeram as maiores atrocidades contra a população – roubaram, torturaram e mataram. Sabemos, também, que "junto a Cabaços houve hum ataque mais forte: o combate durou tempo, e o inimigo teve de retirar-se em vergonhosa fuga, perdendo 700 prizineiros, além de 200 a 300 homens mortos, ou feridos. A rapidez da sua retirada faz com que não levem forragens algumas para os cavalos, e sómente algum biscoito para os soldados, sem provisão algumas mais."
A 17 de maio de 1811, o arcipreste de Arega, que era também pároco desta freguesia de Maçãs de Dona Maria, Padre Tomás José Lopes, recolheu as informações dos vários párocos das 21 freguesias que compunham este arciprestado (Arquivo da Universidade de Coimbra, Invasões Francesas, Documentos organizados pelo Coronel Belisário Pimenta, 1811, doc. 21).
Nesta freguesia pereceram às mãos dos franceses 81 fregueses, dos quais 78 homens e 3 mulheres, respetivamente. Os estragos e prejuízos por toda a freguesia foram elevados.
Atente-se na descrição do respetivo pároco sobre este ponto: "Em milho, trigo, sevada e senteio roubou o inimigo nesta freguesia asima de trezentos e setenta e sette moios, que se achavão enterrados e entaipados em lugares e sitios, que se julgavão seguros. Da mesma forma de feijois julgase passarem de mil e trezentos alqueires: de vinho, e agoa ardente não menos que oitocentos almudes: de azeite novecentos e cincoenta alqueires: de roupas, e preciozidades trastes e ornatos de caza avaliouse a perda em sete contos, e oitocentos mil reis; em prata, e dinheiros levarão sem duvida oito mil cruzados. Havião tãobem de levar de gado miudo de lam oito moios: de gado miudo de cabello setenta moios: vinte juntas de bois: oitenta bestas menores, e duas maiores. Roubarão alem disto setecentos porcos de criação: de engordo trinta, e em carne de porco já salgada pelo menos mil e seiscentas arrobas. E finalmente de palha de milho e trigo mais de seiscentas carradas."
Continua