PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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Apontamentos

O escritor Miguel Torga, no seu livro Novos Contos da Montanha, deunos a conhecer o Alma Grande, personagem criada a partir de uma outra personagem lendária, o denominado Abafador.

O Abafador, no tempo dos Cristãos Novos, judeus cristanizados à força, era chamado pela família para acabar com a agonia dos moribundos e, ao mesmo tempo, ao abreviar-lhes os últimos momentos, evitava que o rito cristão fosse imposto.

Pela sua função social, era alguém muito prestigiado e muito respeitado na comunidade, pois as pessoas achavam que ele fazia um favor à sociedade.

O conto “Alma Grande” remete para uma questão muito atual, a eutanásia. Num Portugal isolado e rural onde o Direito do Estado não chegava e atingia os costumes de uma população entregue a si própria e regida por uma tradição judaica, a prática da eutanásia, conforme o escritor narra, era admitida.

O projeto relativo à eutanásia foi recentemente rejeitado na Assembleia da República. Ainda bem, pois a questão não pode ser política, como alguns deputados de triste figura, nos fizeram perceber. É uma questão complexa, com vários pormenores legais, éticos e técnicos, mas, fundamentalmente, é uma questão de consciência.

Por que não se há de dar liberdade a cada um de decidir o que considera ser certo para si?

Não somos, infelizmente, reféns dos que toleram perfeitamente a distanásia, praticada frequentemente contra a vontade de pacientes e seus familiares?

Quem tem ou já teve familiares próximos em estados muito graves, com grande sofrimento, e quadro de morte certa, provavelmente já disse a frase “mais valia morrer do que estar neste sofrimento”. Não será certamente crueldade mas o lado humano a falar.

É sempre difícil aceitar o fim, e quanto à possibilidade de este ser antecipado, depende de cada um.

Se me prometerem viver mais, mas sem qualquer dignidade nem capacidade para interagir com o mundo que me rodeia, em sofrimento e se os cuidados paliativos não forem suficientes, gostaria que me ajudassem a ir.