Fui para a escola no dia 7 de Outubro de 1944 (foi a uma terça-feira). E, como era de hábito, ainda me recordo do que o meu querido pai me disse nesse dia: foram estas palavras: “que vais fazer rapaz para a escola tão pequeno?” Eu disse: “já sei dizer como me chamo”. “Então vai-te embora”. Ele andava a tirar estrume dum curral de gado.
E, como era de hábito, todo contente, acompanhei um colega, mais velho, que infelizmente já faleceu e lá fui eu a pé, do lugar da Mata, freguesia de Alvaiázere, para a escola que é na sede de concelho e ainda tem o nome de Escola Comendador Cesário Neves, onde foi minha professara a D. Gabriela de Figueiredo Messias na 1ª e 3ª classe e o Sr. Professor José Maria Castelão, na 2ª e 4ª classe. Levava para o lanche do meio-dia um bocado de broa com uma sardinha assada no meio ou umas poucas de azeitonas para comer com o dito pão e sempre a pé tanto para lá como para cá e à noite, tanta a chover como a fazer sol e por estrada cheia de pedras soltas, com umas botas nos pés e um saco de adubo enfiado na cabeça quando estava a chover e lá ia eu todo satisfeito e sempre bem disposto.
Eram outros tempos, que não são os de agora, por vezes no Inverno com tanto frio e, na escola já havia um fogão com uma fogueira feita com cavacas que por vezes levávamos. Éramos dois a dois em cada carteira. O meu colega de carteira foi sempre o meu querido amigo Abílio Carvalho, o “Abílio Latoeiro” (que infelizmente já partiu para o outro mundo no dia 30 do passado mês de Julho). “Abílio que Deus te tenha a tua alma em descanso”.
Meus caros leitores, era assim a vida de outros tempos e, com tantos sacrifícios daquelas épocas, ainda cá vou andando.
Confesso que éramos todos amigos. Mas de vez em quando, quando um colega fazia pelo caminho qualquer malandrice, logo havia um que era mais atrevido, logo dizia à professora “minha senhora, fulano fez isto ou aquilo”. Logo, a pobre professora, que tinha paciência para nos aturar, dava sua repreensão e, por vezes alguns bolos (reguadas) com aquela a que chamávamos nós pobres crianças a menina dos cinco olhos “uma régua de madeira”, até as mãos ficavam quentes.
Pois caros leitores: nós alunos da escola chamávamos a esses cavalheiros “acusa cristos”. Agora que fui ver ao dicionários e lá vi esta palavra que significa: pessoa que costuma fazer acusações. E, acusação significa: “acto ou efeito de acusar; imputação, denúncia e censura”.
Agora em tempos actuais, não era só nesse tempo (1947) que os havia.
Hoje, presentemente e já com uma sociedade que se diz mais evoluída e culta, também os há e não são poucos.
Vejam esses senhores, que estão na Assembleia da República, nos altos comandos, nos Ministérios, nos Governos ou até aqueles que para lá pretendem ir, mal vêem um a ser nomeado para qualquer posto ou tacho, não é nenhum por amor à camisola, como lhe convém, vai logo o da opinião contrária a dizer, “Senhores leitores, verifiquem se os actuais são ou não como os infantis de antigamente criados por gente de pouca cultura? A continuar assim, cada um diz o que quer e que lhe vem na alma.” publicamente, que esse cavalheiro, por outras palavras, fez isto ou aquilo de qualquer maneira e feitio. A acusá-lo por isto ou aquilo. Vão buscar tudo para o enterrar na sua honestidade ou dignidade pessoal. Mas não olham para o que eles foram ou até são. Se estivessem calados era bem melhor do que andarem a acordar oscas atordoadas.
Se todos trabalhassem, quando para lá vão ou andam nas imediações, para ver se este pobre País andava para a frente e procurassem reaver o que têm esbanjado de qualquer maneira e feitio. Estes cavalheiros julgavam que tudo era uma brincadeira. Mas não é.
Onde está uma palavra que merece muito respeito “A VERGONHA”. Que tristeza! Para terminar digo: que tristeza, e também pergunto: são ou não uns “acusa cristos”?
Senhores leitores, verifiquem se os actuais são ou não como os infantis de antigamente criados por gente de pouca cultura?
A continuar assim, cada um diz o que quer e que lhe vem na alma. Parece-me bem que NÃO ESTÁ CERTO.