PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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O Venerável Frei Inácio de Jesus religioso da Ordem da Santíssima Trindade

Continuação do número anterior

No ano de 1579 foi eleito Provincial no Capítulo de Lisboa, eleição esta aplaudida pelo Rei e por toda a corte. Todavia, Fr. Inácio de Jesus resignou ao cargo pois que: "não era Frei Ignacio homem, que nas circumstancias de então abandonasse os que gemiam em ferros, expondo-os ao desamparo, e muito delles a renegar". Conseguiu a liberdade de mais duzentos sessenta e seis cativos. Para além destes resgates fez muitos outros, contando-se mais de sete mil e quinhentos o número de cativos que salvou sendo um "verdadeiro Pastor dos desgraçados, que estavam opprimidos na cidade de Marrocos".

A sua entrega, sacrifício e dedicação era a sua verdadeira consagração ao amor pelo próximo, onde, citamos: "levantou altar, dizia-lhes Missa, confessava-os, apascentava-os com o pão dos Anjos, instruía-os nos deveres de Catholicos, consolava-os em suas tribulações, e alcatava-os com a esperança da liberdade e da vida eterna". Instituiu entre eles a Confraria da Misericórdia para melhor os preservar e encorajar na fé e na caridade tendo também mandado erigir um hospital onde se pudesse curar os cativos "sendo elle enfermeiro: e não bastando as esmolas, que lá adquiria, requereu á Misericordia de Lisboa auxilio em remedios e conservas".

Por diversas vezes a sua vida esteve em risco tendo sido condenado a perpétuo cativeiro porque "procurava evitar todo o escandalo entre os captivos, tratando de persuadi-los ao matrimonio: porém sobre tudo empregava o maior cuidado, em que não renegassem, e tudo em pratica para fazer abjurar os, que o haviam feito". Salvou-se de ser queimado vivo "no que lhe valeu um mussulamno seu amigo, que era home do conselho e influia com o Xerife: entre os, que reduziu, foram sete meninos captivos na batalha a quem esse principe mandou pôr turbantes: mas que illustrados pelo servo de Deos, vieram a conseguir a palma do martyrio".

Fr. Inácio de Jesus "depois de dar suas contas na Mesa da Consciencia, e de procurar todos os meios satisfazer as dividas, que contrahira por cada um dos resgates, fortalecido com os soccorros da Religião, e pedindo perdão e orações a todos", viria a falecer de uma febre aguda com a idade de 54 anos, em 10 de Março de 1592, depois de "trinta e cinco de Claustro, e treze de captiveiro voluntario", tendo sido sepultado num lugar chamado da Almaeta em Marrocos.

Diz Fr. Jerónimo de S. José, na sua obra supra citada, que "Depois que em Hespanha, e Portugal houve noticia da vida santa deste Veneravel Redemptor, e obras tão heroicas, pintárão logo a sua Imagem, como de varão illustre, e veneravel. Em algumas partes o pintárão com insignias de Martyr de sangue, atravessado com huma lança, para mostrar os merecimentos do martyrio, o que se emendou em Portugal, mandando se pintasse a sua figura com grilhões, e cadeias, e na sua mão hum coração inflammado, com se achava na sacristia do Convento de Lisboa."

Apesar dos muitos milagres atribuídos ao Venerável Fr. Inácio de Jesus, iniciou-se no século XVII o processo para a sua beatificação que se arrastaria através dos tempos sem nunca ter sido concluído. Diz o povo na sua sabedoria que "Santos da casa não fazem milagres", todavia, talvez os Alvaiazerense possam nos dias de hoje pedir um verdadeiro milagre para que este filho da terra possa um dia chegar aos Altares da Igreja Universal.