A maior riqueza de todo o concelho de Alvaiázere reside nas pessoas que aqui perseveraram e aqui insistem em viver. A simplicidade, a honestidade, a sinceridade e a maneira hospitaleira pela qual sempre foram conhecidos em todo o país traduzem a maneira mais harmoniosa com que se pode caracterizar os Alvaiazerenses.
João José Maria de Morais viveu num tempo onde estes valores eram uma presença bem viva e marcante no seio familiar e nas gentes desta terra. Nos dias de hoje poucos saberão quem foi João José Maria de Morais. Todavia, mais importante do que saber quem foi, é saber o que fez este filho de Alvaiázere para que seja recordado e lembrado no nosso tempo de maneira tão peculiar.
Filho do farmacêutico Bento José de Morais, da Marinha Grande e de D. Florinda Rosa do Sacramento, de Alvaiázere, nasceu a 26 de Fevereiro de 1806 e foi batizado, a 4 de Março desse mesmo ano, com seu irmão gémeo, José, ambos nascidos e batizados nesta vila (Arquivo Distrital Leiria, Livro de Batismos de Alvaiázere 1806, assento n.º 1 e 2, de 4 de Março, fl. 122-121v.). Teve ainda outros irmãos, entre os quais, D. Veríssima Cândida de Morais que faleceu a 15 de Janeiro de 1871 com a idade de 75 anos (A.D.L., Livro de óbitos de 1871, registo n.º 4, fl. 2v.).
João José Maria de Morais cresceu e viveu em Alvaiázere tendo sido um homem intimamente ligado à vida municipal, social e cultural desta vila, nas mais diversas áreas, tendo sido casado com D. Teresa Bernardina da Conceição desta mesma vila. Como diz o povo na sua sabedoria: "Por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher!"
Foi diretor dos correios, professor do ensino primário, juiz de paz, substituto do juiz ordinário, depositário do julgado, político, farmacêutico, para além de ter sido músico e fundador da Filarmónica de Alvaiázere conforme se registou no jornal O Alvaiazerense, n.º 7, datado de 25 de Setembro de 1862.
Nesse ano, em que veio a falecer, escreveram dois seus amigos, o Padre João Simões Louzã e Cassiano de Loné Frazão, a seu respeito, no Jornal O Districto de Leiria n.º 8, 2.º Ano, datado de 1 de Março. Citamos um excerto dessas palavras: "Amigo fiel e dedicado, bondoso de natureza e de família, soube ganhar as geraes sympathias; porque a todos estimava sem excepção de pessoa; o mesmo povo era objecto do seu natural disvelo e apreço. Amigo sem reserva, serviçal por genio, o seu maior prazer era obsequiar a todos, fazer bem a todos, e a todos servir com o seu reconhecido préstimo, e relações que sabia conservar e adquirir."
Faleceu com 58 anos em Alvaiázere, tendo o Prior João Simões Louzã, pároco desta vila, arrolado no livro de óbitos desta freguesia, registo n.º 5, datado de 17 de Fevereiro de 1862, fl. 2v-3, o seu decesso onde afirma que "Não recebeu os sacramentos da última hora; porque nem elle, nem eu, nem o Medico assistente Doutor Barros, nem enfermeiros, julgavamos tão próxima a hora derradeira."
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