O mês de novembro, muito graças ao dia de S. Martinho, é propício ao encontro de familiares e de amigos, provando vinho novo, num magusto ou na combinação dos ambos.
Numa roda de amigos, por acaso num magusto tradicional, costume que infelizmente vai desaparecendo, um deles saiu-se com esta adivinha: “Qual é a coisa, qual é ela, que é macho e dá fêmeas?”
Após algumas tentativas frustradas e ante a curiosidade, a resposta do desafiante não tardou: “O castanheiro!”, disse, explicando o prodígio.
Dado o mote à conversa, um dos presentes contou que resolvera fazer cerca de dois hectares de souto. Sendo já um jovem avô, todos questionámos a sua pretensão mas a força dos seus argumentos desarmou-nos, pois as castanhas que comíamos provinham de castanheiros plantados pelo seu avô!
A conversa desenrolou-se, naturalmente, em torno da fileira da castanhicultura, nomeadamente os aspetos económico-financeiros das modernas plantações e das instalações de transformação das castanhas para o mercado.
Falou-se dos constrangimentos: doenças, pragas e das propostas, nomeadamente dos híbridos e clones resistentes ao cancro e à doença da tinta. Ficámos a saber que, apesar da resistência às doenças e da sua precocidade, os castanheiros híbridos não acompanham as qualidades organoléticas da castanha portuguesa, nomeadamente das variedades longal, judia, martainha, côta e de muitas outras. Ela é reconhecida internacionalmente como de excelente qualidade, sendo geradora de ótimos produtos transformados, para uma ampla gama de consumidores, nacionais e internacionais, não só nas datas festivas mas também ao longo do ano.
Poderemos relançar os soutos portugueses? Certamente que sim, pois como os antigos diziam: “Mais vale castanheiro, que saco de dinheiro.”
Ainda relativamente aos castanheiros, é de pasmar (pasmar mesmo!) ver alguns tão bonitos no território alvaiazerense. É reconfortante ver monumentos vivos talvez do tempo dos descobrimentos! Por outro lado é com tristeza que vemos alguns quase abandonados. Se fosse uma casa brasonada, uma capela, qualquer coisa antiga feita pelo homem, não lhe deitaríamos a mão?
Como curiosidade é de referir que nos Tombos da Ordem de Cristo (“censos”) de 1508, estavam identificados pouco mais de meia dúzia de castanheiros na área da comenda de Pussos. Será que algum sobrevive?