Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões
Iniciei este artigo com um poema do nosso poeta maior: Luís Vaz de Camões. É um poema intemporal que, apesar de mais de cinco séculos existência, mantém a sua contemporaneidade intacta.
Em 1971, José Mário Branco musicou- o, cantou-o e usou-o como título no seu primeiro álbum de longa duração.
Faço-o também como uma forma de homenagear o artista falecido há dias que, ao longo de meio século, deixou marca indelével na cultura portuguesa. A sua vida foi marcada igualmente pela intervenção política, nomeadamente pelo combate à desigualdade social.