PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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Um passeio pela vila de Alvaiázere em 1875

Fonte de extraordinário interesse histórico, a imprensa local e regional constitui um verdadeiro repositório de uma época nos mais variados aspetos sociais, económicos, culturais e históricos de uma sociedade que não se conformou em ser anónima.

Alvaiázere assume um lugar de destaque com o primeiro e mais antigo jornal do norte do distrito de Leiria – O Alvaiazerense -, editado entre os anos de 1861 e 1863. Definia-se como um jornal instrutivo, satírico e burlesco, conhecendo-se alguns exemplares impressos na Tipografia Alvaiazerense.

Porém, a imprensa regional, mormente os jornais editados em Leiria, é decerto aquela que, durante a segunda metade do século XIX, mais se dedicou à publicação de notícias referentes às vilas da zona norte estremenha do distrito. Deriva este facto de só nos finais do século XIX se ter verificado, na imprensa do norte do distrito, a consistência necessária para a edição regular dos seus jornais. São disso exemplo o Archivo Litterario de Alvaiázere (1865), O Cão de Fila de Pombal (1865-1866), O Progresso Pombalense (1877-1880), O Pombalense (1881-1886), O Correio de Pombal (1886-1892), O Campeão do Zêzere de Pedrógão Grande (1891-1892) ou O Combate de Alvaiázere, estreado em janeiro de 1894.

Com os olhos postos na imprensa regional, colhemos no jornal Correspondência de Leiria, folha semanal, na edição de 16 de maio de 1875, no seu primeiro ano, número 29, uma curiosa Descripção da Villa d'Alvaiazere e a Divisão Comarcã, escrita por J.A. dos Santos. Pela sua importância enquanto fonte documental de uma época nos seus mais diferentes aspetos, transcrevemo-la na íntegra, cabendo ao leitor desfrutar desta descrição de uma tão bela vila que não quis passar incógnita no século XIX.

"Pareceu-nos louca, á primeira vista, a idéa que nos acudio de descrever a villa d'Alvaiazere, por não ser ella uma Pequim, uma Roma, uma Veneza, uma Lisboa, nem uma villa qualquer das mais importantes que povoam o nosso poetico Portugal. Porém, uma representação que vimos na folha official pedindo a autonomia do concelho de Figueiró dos Vinhos, nos decidio a pòr em pratica o nosso proposito.

Alvaiazere não é effectivamente terra muito populosa: mas os poucos habitantes que tem, são quasi todos abastados proprietarios. Situada n'uma extensa várzea que corre de norte a sul da villa, e que, em quasi completa planicie communica com Thomar, Coimbra e Pombal, não nos parecia que houvesse nascido para ser uma povoação pequena: e á qual, só por isso, alguns querem dar tão pouca importancia. Seu nome derivase de – Alba-varzea – que significa – "branca, alegre e feliz varzea" -, vindo pelo andar dos tempos, a chamar-se Alvaiazere. A sua fundação data do tempo de D. Sancho I, (1200), que lhe deu fòro de villa em 1388.

Esta terra, que foi grande nos seus principios, parece que se estendia mais para o norte, até ao sitio onde chamam – "Lagar da Lagea e Egreja Velha", – e onde ainda hoje se veem ruinas da residencia de antigos priores, conhecida pelo nome de – "Passal". – Já aqui se não veem vestígios da antiga egreja, mas só de sepultturas de pedra inteiriça, mais largas para o lado dos hombros e estreitas para os pés, todas com as cabeceiras voltadas para o poente, e dispersas por differentes sitios do referido terreno; porém, não se encontram alicerces de paredes, que se existiram, e ali existia a egreja Velha; o tempo tudo tem aniquilado, deixando á vista jazigos vazios dos antigos finados. Ahi perto n'uma pequena eminencia, ha pouco coroada com a cruz do Redemptor, se enterraram muitos cadáveres, durante uma epidemia que ceifou muitas vidas em Alvaiazere e em toda a sua freguezia.

Continua na próxima edição