…, parece que ouço mal…, ou nem por isso!?
A idade vai avançando e o ser humano, na sua componente material, vai revelando as maleitas arquivadas ao longo da vida. Como tudo, a audição é importante, e na comunicação faz mossa…
Lembra-me uma rábula antiga que a minha sogra (está a ficar meia surda) me conta sobre duas comadres surdas que se encontram:
Xica: Olá, Sra. comadre!
Zefa: Ando a apanhar cardos.
Xica: O compadre está melhor?
Zefa: São p’ró burro.
Xica: As melhoras e até logo.
Zefa: Come-os que é um regalo.
Bom, as coisas não são tão simplistas mas a ideia é registar que ouvi recentemente umas coisas sobre as quais fiquei surpreso. Acrescento, ou não! Ouvi bem?
Parece que numa festa de aniversário de uma importante associação do “pacato território”, no âmbito das naturais cerimónias comemorativas, houve uma sessão de atribuição de uma medalha de mérito ao grande chefe.
Tudo normal. Mas recentemente encontrei os “Vida de Chícharo”, em amena cavaqueira sobre uma história de bastidores que molda o sentido daquela sessão.
Chícharo-mor: Oh zé, não achas que eu merecia ter uma medalha de mérito, altaneira!? Fica bem para aquelas coisas…
Zé-chícharo: Oh pá!… e coisa e tal,… hum… talvez não fique bem seres tu próprio a propor.
Chícharo-mor: Fica mal!? Qual quê, fica é muito bem e eu quero já uma medalha de mérito atribuída pelos “dirigentes socorristas altaneiros”.
Zé-chícharo: … claro, sim, sim, avança com a proposta, estou contigo…
Acho que ouvi bem, parece que foi autoproposta.
E não há nada de mal em autopropostas. Tudo depende do sujeito, objeto, contexto e forma. Por outro lado, é até natural que cada um de nós se autovalorize nas qualidades e reconheça os defeitos. Faz parte do ego que todos temos. Já o egocentrismo é outa coisa. O egocêntrico faz, da sua personalidade, o centro de todas as atenções e julga-se o único a ter valor.
A questão coloca-se: servir ou servir-se?
Sabemos que nestas coisas de cerimónias comemorativas há sempre a componente política. Não nos iludamos nem sejamos hipócritas. E uma medalha de mérito, “tão cedo”, no contexto, é realmente capaz de fazer “jeito” no CV e propiciar “equivalências”.
Já agora, deixa cá ver quais as associações que ainda não estão sob aquela alçada e que poderão proporcionar medalhas “visíveis” a curto prazo?
Bom, isso é ver. Do ouvir, e daquela conversa, devo ter ouvido mal.
Parece!? Mas acho que no último exame auditivo que fiz, o diagnóstico estava normal. A ver, vamos.