PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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Contributo para a história da Filarmónica de Alvaiázere. A tocar desde 1855…

(Continuação do número anterior)

Reconhecemos, assim, que a Filarmónica de Alvaiázere em Setembro de 1855 participava nas concorridas festividades da Imaculada Conceição realizadas nesta vila de Alvaiázere, de forma muito variada, quer interpretando obras de cariz religioso: exemplo disso, a Missa de Ostrenold, quer tocando outra variedade de obras, fazendo acompanhar o fogo-de-artifício.

Passados alguns anos, o jornal "O Alvaiazerense", n.º 7, datado de 25 de Setembro de 1862, remete-nos para o falecimento de João José Maria de Morais, afirmando-se que a ele se deve a instituição da Filarmónica de Alvaiázere. Pelo interesse histórico de que se reveste a notícia, passamos a citá-la na íntegra:

"Não encetamos a publicação deste pequeno periódico, sem pagar-mos um tributo de gratidão que devemos a seu fundador João José Maria de Moraes que piamente crêmos que descansa em paz na presença do Eterno Creador do Mundo!

Seremos breves neste esboço biographico do homem a quem devemos tanto e do qual respeitamos as frias cinzas!!

João José Maria de Moraes foi sempre um cidadão honrado, laborioso, amigo dedicado e liberal; predicados estes que o tornavam digno da estima de todos.

Hábil pharmaceutico, zeloso professor, e honradisimo director do correio desta villa.

Como politico, era liberal e nunca desmentio, do que foi como deffensor das linhas do Porto!

Humanitario e caridoso por excellencia, jamais alguem o excedeu, principalmente por occasião da choleramorbus em 1856. Nessa occasião o pobre encontrou-o sempre solicito em aviar-lhe as receitas gratuitamente, a toda a hora que chegassem á sua porta.

Quando estava proximo da hora do passamento, queimou algumas receitas em dívida, que diziam respeito a gente necessitada, para que recebessem o ultimo óbulo, que lhe offertava o homem que tanta falta ficou fazendo.

A elle devemos a instituição de uma philarmonica, pois tambem era musico!

Inimigo do occio, empregava o tempo em diversos misteres, como trabalhando em objectos de serralheria, fundição, etc.

Este illustre cidadão, tão util á sociedade, pelos dotes que riunia deixounos immersos na mais profunda dôr!

Contava apenas 56 annos de idade, a sua vida fora como se vê uma vida exemplar; accomettido de uma terrivel enfermidade, secumbio ao quinto dia, indo esconder seus restos no pó da lousa! Que Deus o tenha em seu descanço, serão as ultimas palavras que lhe dedicamos. OS. R.R."

João José Maria de Morais, para além de ter sido músico e fundador da Filarmónica de Alvaiázere, foi um homem intimamente ligado à vida municipal, social e cultural desta vila, tendo exercido as mais diversas profissões e funções de carácter social, nomeadamente, farmacêutico, professor, director dos correios e político.

Se atendermos ao facto de que o liberalismo defendia a difusão da cultura e do ensinamento ao maior número de pessoas possível, do qual João José Maria de Morais era apoiante, como político, então facilmente compreenderemos o impacto que a vitória dos liberais teve na época, pois as filarmónicas eram um excelente instrumento deste nobre ideal.

Foi talvez, devido à tenacidade de homens como este que se iniciou no interior do país, uma nova cultura musical através de formações musicais, conhecidas por Filarmónicas ou Bandas, e que ainda hoje continuam a fazer parte integrante das colectividades municipais da maioria dos concelhos do nosso país.