O tempo de férias é propício à reflexão. E se os últimos 3 anos têm sido duros para a generalidade dos portugueses, por outro lado têm sido enriquecedores em termos de aprendizagem política. Desde Abril de 74, a ideologia vigente tem sido uma socialdemocracia, com variantes mais ou menos sociais de acordo com o partido no poder. Com a crise financeira de 2008, o País foi apanhado desprevenido em plena fase expansionista e subitamente viu-se resgatado. Com demagogia e populismo, como é apanágio de todas as oposições, neste caso inerente à promessa de tudo resolver com cortes nas gorduras, passámos para uma ideologia vincadamente liberal. No essencial a mesma defende uma economia livre e concorrencial, cabendo ao Estado apenas a regulação, ou a sua promoção e um papel mínimo em termos sociais, devendo antes ser assistencialista, isto é, promover a misericórdia e não abandonar os mais pobres, trucidados por motivos vários, pelo tal mercado/sociedade de concorrência. Assim de uma forma gradual a mudança tem sido feita: cortaram-se os rendimentos mínimos, os subsídios de desemprego em valor e duração, os abonos de família e outros. A nível de saúde fecham-se urgências onde surge a oferta de insituições particulares, dificulta-se a medicamentação por motivos economicistas. Pelo mesmo motivo, no ensino aumenta-se o número de alunos por turma, deteriorando-se a qualidade do mesmo, empurrando para o privado. A austeridade "expansionista"(?) assim ditou, mas tendo sempre como fundo uma linha ideológica. Não nos compete ajuizar do sistema mais qualificado ou justo, todos terão os seus prós e contras, não é, nem nunca será pacífico. O importante será sabermos do que nos falam, quando os partidos políticos nos fazem propostas. Estas no fundamental divergem no peso e responsabilidade do Estado nas funções sociais. Cada um deverá reflectir e ponderar com base na vivência, na concepção dos valores essenciais, no sentido e objectivos de vida, devendo fazer escolhas, mas em consciência. Para depois, não se queixarem de terem sido enganados!
