PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

antonio_goncalves

Concordâncias e Discordâncias

Não há que negar, veja-se sob que prisma for, que vivemos tempos aflitivos das nossas vidas e da nossa democracia.

Hoje não vou criticar, aplaudir, mostrar ou não apatia perante as medidas que os nossos governantes tomam riminosamente sobre algumas classes do povo. Vou principalmente transcrever algumas citações de Natália Correia, poetisa, nascida nos Açores em 1923 e falecida em Lisboa em 1993. Militante e deputada à Assembleia da República pelo PPD/PSD durante muitos anos, não se coibia de dizer verdades nem criticar, quando se julgava com razão, as medidas e as orientações politicas e governativas que se tomavam, mesmo por aqueles que politicamente lhe eram próximos. Que saudades dos tempos dos políticos nossos representantes não subservientes, sérios, honestos, não servis ou seguidistas, não amorfos ou beija mãos de outros tempos. Como homens/mulheres capazes, feitos, sabedores, não precisavam de se comportarem como os de hoje, a fim de se mostrarem e tornarem alguém, apenas através da política e da subserviência. Boa ou má.

Vejamos então algumas citações retiradas do livro “O Botequim da Liberdade” de Fernando Dacosta:

“A nossa entrada (na CEE), vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorarnos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista.”

“A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa, vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido aos traumas da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões, inconscientes de, sei lá, talvez vingança.”

“Portugal vai entrar num campo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente.”

“Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica.”

“Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reacionário centrão.”

“Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditam nestes valores.”

“As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, o Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa antes, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir.”

Perante estas citações, que dizer?

Que perguntas, que análises, que visão, que conhecimento dos seus futuros substitutos político/partidários… Que extraordinária vidente.