Todas as regiões têm, para cada época festiva, uma tradição.
Na época natalícia, em casa de meus pais, os belhoses (bilhós) e as fatias paridas não faltavam.
Se os primeiros têm várias denominações conforme a região, velhozes, bilhós, belhozes, filhós, bilharacos, etc, as segundas, fatias paridas, também se designam por fatias de parida, pão de mulher parida, fatias douradas ou rabanadas.
As fatias de parida têm uma lenda associada à sua denominação. Conta-se que uma mulher pobre que nada tinha para se alimentar e ao seu filho recémnascido, pegou nuns restos de pão duro e demolhou-os, vindo a ter tanto leite que ainda sobrava para amamentar as outras crianças da aldeia.
É um facto que o pão embebido, conforme a região, em leite, vinho ou água, os ovos, o açúcar e o azeite da fritura, é uma bomba calórica, sendo consumido pelas gestantes, para a produção de leite, mas também como forma de combater os rigores do inverno.
Antigamente, hoje é impensável, a receita, para além dos ingredientes básicos, tinha uma variante, o pão não era molhado em leite mas em vinho quente açucarado. Curiosamente, em minha casa de meus pais, não se usavam nem o vinho nem o leite, mas eram bem ensopadas em ovos.
No sul de Portugal, denominam-se fatias douradas porque depois de fritas ficam com o tom dourado.
Na região de Lisboa, denominamse rabanadas e são demolhadas em leite fervido com canela e limão, talvez resquícios da ocupação árabe já que os árabes as usavam para manter as forças durante o longo jejum do Ramadão.
Em França denominam-se Pain Perdu, em Espanha, Torrijas, no México Zacatecas, na Venuzuela, Tacones e em Inglaterra French Toasts.
O único ingrediente em comum, na imensa maioria das receitas, é a utilização de pão velho. O pão que não se pode comer porque está duro, ou seja, perdido. Portanto, as fatias são uma forma de salvar o pão.
Numa época em que muito se fala das alterações climáticas, o desperdício alimentar tem sido um pouco esquecido, mas ele representa uma parte significativa dos alimentos que são produzidos, sendo inegável o impacto ambiental.
Em 2020, que tal envolvermo-nos ativamente na promoção de uma alimentação saudável, que contribua para a diminuição do desperdício alimentar e para a sustentabilidade dos recursos naturais?