PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE
DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO
DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO
DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

Portugal a marcar passo

31 de Janeiro de 2023

Há uns anos atrás, como alguns estarão lembrados, correu na televisão uma rábula humorística acerca de um infortunado náufrago, arrastado para uma ilha deserta, que passava os dias a desafiar a imaginação para sobreviver e a perscrutar o horizonte na ânsia de avistar um barco que o levasse de volta ao seu amado país, Portugal.

Anos passados esse dia chegou, finalmente, e o náufrago, esquelético e de barbas proeminentes, foi avistado por um navio que o recolheu e cuja tripulação, após lhe ter prestado todos os cuidados e assistência devidos, ávida de curiosidade, quis saber o que lhe acontecera, tendo o náufrago, por entre lágrimas de saudade e palavras emocionadas, descrito a sua odisseia. Mas, mal acabou o seu relato, disparou a pergunta que o consumia: e como vai o meu país?

Na rábula, a resposta sobre o estado do país era tão frustrante e desanimadora que o náufrago, incrédulo e surpreendido pela realidade reportada, respondia aos seus interlocutores, decepcionado e abatido, que, assim, preferia voltar para a ilha.

Esta foi a imagem que me veio à mente quando, em jeito de balanço do passado recente e de projecção do nosso futuro colectivo, me pus a cogitar sobre o actual estado da nação neste início de 2023.

Senão vejamos: em 2020, devido à pandemia, as pessoas foram forçadas a permanecer em casa e a privar-se de muitos dos seus hábitos sociais para diminuir os riscos de contágio e evitar o perigo do seu agravamento, de consequências nefastas e imprevisíveis. A economia abrandou e entrou em estado de pouco mais que letargia, sobretudo nos sectores em que o recurso ao teletrabalho não era viável nem possível. Em 2021, com os progressos da ciência médica e eficácia das vacinas anti-covid, o país começou lentamente a retomar a normalidade e a tentar sair da paralisia económica em que mergulhara, tentando recuperar dos traumas sociais que o afectaram, pese embora alguns deles ainda hoje persistam.

Em 2022, quando quase todos nós acreditávamos que iria ser o ano da recuperação e de retoma da normalidade existencial, eis que, menos de um século depois da segunda, começa na Europa mais uma guerra, protagonizada pela Rússia e Ucrânia, que, para além da instabilidade e consequências próprias de qualquer conflito bélico, afectou toda a economia europeia, fazendo disparar a inflação, aumentar os preços dos bens essenciais e energéticos com as consequentes perdas de poder de compra das pessoas e aumento generalizado da pobreza.

Prestes a completar um ano de duração, ainda não se vislumbra ao fundo do túnel qualquer luzinha que permita enxergar o caminho da paz entre os beligerantes, pelo que a guerra estará aí para durar e, o que é mais grave, as suas nefastas consequências perdurarão sobre as economias europeias agravando as condições de vida e de subsistência de todos nós.

Por cá, para além de tudo isto que não é de somenos, o país tentou, neste início de 2023, sacudir a letargia e seguir em frente mas logo entrou num grande alvoroço em sectores nevrálgicos e fundamentais da sociedade, como é o caso da saúde em que o SNS se esvai de insuficiência em insuficiência, cada vez mais exaurido em meios e recursos humanos qualificados. Na educação, os professores reivindicam o que lhes é justamente devido, como o pagamento do tempo de serviço já prestado e condições de trabalho condignas. E como se tudo isto não bastasse para agravar o cenário, o governo tarda no acerto da equipa, perde gás e voa baixinho sob o folhetim das trapalhadas da TAP.

Ai que se eu pudesse, também voltava para a ilha.