Agosto é, tradicionalmente, o mês de fuga à canícula e de ir a banhos o que pressuporia uma certa calma e tranquilidade para usufruir uma merecida pausa recuperadora do ânimo e das forças consumidas para de novo as voltarmos a investir na labuta do dia a dia. Acontece, porém e cada vez mais, que, por via das alterações ambientais, o clima está cada vez mais instável e difícil para a humanidade desfrutar de uma boa e tranquila qualidade de vida, como se vem verificando ultimamente.
Ainda assim e apesar da proliferação de incêndios um pouco por todo o país, reincidindo uma vez mais no Centro, o mês de agosto ficou este ano inalienavelmente associado a um evento que nem os maiores desmancha-prazeres conseguirão varrer tão cedo da nossa memória. Refiro-me às Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) ocorridas durante a sua primeira semana, predominantemente em Lisboa (Parque Eduardo VII e Parque Tejo), mas também em Fátima, Cascais, Oeiras e Loures que, segundo o Vaticano, terão contado com a participação de um milhão e meio de peregrinos, maioritariamente jovens.
As estrelas do evento foram, obviamente, o Papa Francisco e os Jovens. O Papa pelas mensagens que lhes transmitiu, de uma Igreja para todos, que não tivessem medo de lutar pelas suas ideias, que fossem surfistas do amor e que só olhassem de cima para os caídos e carecidos de ajuda para se reerguerem. Os Jovens ouviram, interiorizaram e aquiesceram como que tocados e percorridos, instintivamente, por uma forte e universal corrente humanista.
De permeio, o Papa não deixou passar a oportunidade de fazer uma referência crítica à recente aprovação, em 25 de maio, da Lei da Eutanásia (Lei nº 22/2023) e de dirigir uma palavra de conforto às vítimas de abusos sexuais na Igreja, tendo mesmo recebido e ouvido pessoalmente algumas das mesmas.
É de notar que este Papa é, acima de tudo, um exímio conhecedor da realidade social e um excelente comunicador que diz o que tem a dizer de forma clara e sem ambiguidades, quer para dentro da Igreja, quer para fora, denunciando os abusos, a guerra e as injustiças onde quer que estejam e sejam quem forem os seus autores.
Como não podia deixar de ser num evento português, houve também tempo para o fado, interpretado por três dos mais conhecidos intérpretes deste género musical, nomeadamente, Cuca Roseta, Mariza e Carminho, e para o cante alentejano, património cultural imaterial reconhecido pela UNESCO desde 2014.
No termo das Jornadas e em jeito de balanço, é unânime o reconhecimento de que a organização da JMJ foi um sucesso indiscutível e, ao menos por uma semana, Portugal foi notícia e esteve no centro do Universo.
Em jeito de rescaldo, subsistem ainda dúvidas quanto ao custo global do evento, apontando os mais pessimistas para cerca de 160 milhões de euros, metade dos quais suportados pelo Estado. Até o sabermos, temos a promessa do Bispo auxiliar D. Américo Aguiar, responsável da Igreja pela organização do evento, de que os custos serão apresentados e contabilizados até ao cêntimo.
A outra dúvida é saber como vai ser rebaptizada a Ponte Ciclo-Pedonal sobre o rio Trancão que, no Parque Tejo, liga Lisboa a Loures, após a proposta do Presidente da Câmara de Lisboa, Engº Carlos Moedas, para que lhe fosse atribuído o nome do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, ter sido contestada em petição pública com mais de 15.000 subscritores e declinada pelo próprio Cardeal Patriarca.