Escrevo ou não escrevo?
Confesso que, após quase dois meses de clausura, a disposição para a escrita não é das melhores.
Nesta altura do ano, gosto de andar por montes e vales. Gosto de sentir os cheiros de terra prenha e gosto de fotografá-la nos seus múltiplos aspetos ou semeá-la como se não houvesse amanhã.
Estando, assim, em modo de hibernação, “encontrei-me”, mais uma vez, com a poetisa Cecília Meireles, considerada uma das maiores do Brasil. Espero que gostem.
Leilão de jardim
Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão.)
Para terminar, e como todo o cuidado é pouco, deixo dois provérbios populares: “Em maio, nem à porta de casa saio.” “Quem em maio não merenda, aos finados se encomenda.”