Comemora-se este ano o primeiro centenário do nascimento do poeta Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nascido a 19 de janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, no concelho do Fundão. A sua obra poética desenrolase por mais de 50 anos e foi no Porto, cidade que inspira grande parte da sua obra e onde passou mais de metade da sua vida, que acabou por falecer, aos 82 anos, no dia 13 de junho de 2005.
Autor de uma vasta obra, é um dos mais lidos e traduzidos poetas da literatura portuguesa. Iniciou-se muito jovem na escrita com o poema “Narciso”, publicado em Lisboa em 1939. Dois anos depois publicou a obra “Adolescente: poemas de Eugénio de Andrade”, com desenhos de Manuel Ribeiro de Pavia, onde pela primeira vez surge o seu pseudónimo impresso.
Em 1943, com o objetivo de terminar o liceu e frequentar Filosofia, vem para Coimbra e aqui convive com Miguel Torga, Carlos de Oliveira e Eduardo Lourenço.
Em 1947, já em Lisboa, tornou-se funcionário público, exercendo a função de inspetor administrativo do Ministério da Saúde, estabelecendo nessa altura novas relações com outros escritores, como Sophia de Mello Breyner Andresen e Mário Cesariny, entre outros.
Em 1948, com a publicação de “As mãos e os Frutos” impôs-se definitivamente como grande autor. Sendo contemporâneo dos movimentos neorrealista e surrealista, quase que não sofre a influência de quaisquer escolas literárias, propondo uma poesia elementar de grande musicalidade.
Paralelamente ao cargo público, que exerceu durante 35 anos, Eugénio de Andrade publicou mais de vinte livros de poesia, publicou obras em prosa, antologia, livro infantil e traduziu, para português, livros de poesia de vários países.
Pela sua intensa e distinta atividade literária ao longo de mais de seis décadas, recebeu diversos prémios. Foi também agraciado, pelo Presidente da República, com o Grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada (1982) e com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito (1989).
O poeta encontra-se sepultado no Cemitério do Prado do Repouso, no Porto.
Deixo-vos com o seu poema “Urgentemente”.
URGENTEMENTE
É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor,
é urgente permanecer.