Ao olhar para o próximo ano letivo que se aproxima, é fundamental resolver os múltiplos e antigos problemas que a escola portuguesa atravessa. Sendo esta o pilar da sociedade todos teremos de proporcionar uma educação de qualidade, adaptada aos tempos atuais. Isto exige esforços concentrados de docentes, encarregados de educação, governantes e sociedade em geral.
Os professores estão desmotivados, velhos e cansados. A idade não perdoa e as doenças físicas e mentais chegam com a agravante de eles não poderem falhar. Os programas mudam conforme a aragem política, a burocracia engole todo o esforço pedagógico e os espaços/equipamentos são, em muitos casos, do tempo dos nossos avós.
Lembrei-me de um poema de Guerra Junqueiro intitulado “A Escola Portuguesa”, que no final transcreverei (com supressões, por falta de espaço), porque se comemora o centenário do seu falecimento.
Guerra Junqueiro foi poeta, político, deputado, diplomata, jornalista, escritor, filósofo, colecionador e agricultor e pertenceu ao fértil meio literário intelectual do final do séc. XIX.
Ligado a causas patrióticas contribuiu, sendo o poeta mais popular da sua época, para o ambiente revolucionário que levou à implantação da República.
Glorificado no Panteão Nacional deixou de ter a amplitude que o situava como um dos maiores poetas nacionais.
A escola portuguesa
Eis as crianças vermelhas
Na sua hedionda prisão:
Doirado enxame de abelhas!
O mestre-escola é o zangão.
Contemplam de quando em quando,
E com inveja, Senhor!
As andorinhas passando
Do azul no livre esplendor.
E como os dias são longos
Nestas prisões sepulcrais!
Abrem a boca os ditongos,
E as cifras tristes dão ais!
Como é que há de na campina
Surgir o trigal maduro,
Se é o Passado quem ensina
O b a ba ao Futuro!
Deixai ver o Sol doirado
À infância, eis o que eu vos peço.
Esta escola é um atentado,
Um roubo feito ao progresso.
Isto escolas!… que indecência
Escolas, esta farsada!
São açougues de inocência,
São talhos d’anjos, mais nada.