I – Conforme previsto, os portugueses foram às urnas no passado mês de março e, desta feita, quase atingiram os 60% de votantes o que muito prestigia a democracia representativa prestes a celebrar 50 anos de história em Portugal, no próximo dia 25 de abril.
Não é meu intento analisar aqui o cenário político-parlamentar resultante destas eleições legislativas, em que nenhuma das tradicionais forças políticas obteve uma maioria de mandatos suficientemente confortável e folgada que lhe permita governar sem sobressaltos, pelo que a estabilidade governativa dependerá, acima de tudo, do engenho e arte que o Primeiro Ministro (PM), Luís Montenegro, vier a evidenciar e dos consensos políticos que conseguir estabelecer.
Como se costuma dizer na gíria popular, vai necessitar de muita ginástica e de alguns bons golpes de rins para agarrar o leme e levar o barco da governação no rumo certo e necessário para resolução dos principais problemas do país que, como todos sabemos, estão bem diagnosticados e foram alvo de reiteradas promessas no decurso da campanha eleitoral.
É certo que, à partida, nem tudo são espinhos, pois o PM poderá contar com o maior superavit orçamental em meio século de democracia, deixado pelo anterior governo, na ordem dos três mil cento e noventa quatro milhões de euros, o que lhe possibilitará, no imediato, dar resposta às solicitações mais urgentes.
Mas as dificuldades são bastantes e uma delas é como compatibilizar o prometido abaixamento de impostos com a obtenção de receitas necessárias para cumprir as promessas eleitorais a polícias, professores, médicos e outros, no imediato e nos anos subsequentes, mantendo o desígnio de contas equilibradas, como deve ser apanágio de qualquer governo. E isto sem descurar as reformas em sectores fundamentais como a saúde, habitação, justiça e administração.
Será que é desta que a economia vai crescer e gerar excedentes capazes de aumentar a riqueza do país para melhorar a qualidade de vida dos portugueses?
Oxalá que sim, mas a verdade é que não há almoços grátis e Portugal não é uma ilha isolada do resto da europa e do mundo, nem está imune às incertezas e consequências que advém dos conflitos em curso, nomeadamente na Ucrânia e na Palestina.
Seja como for, há que dar a Montenegro o benefício da dúvida e aguardar pelos resultados da sua acção governativa para então julgar, positiva ou negativamente, os seus resultados, na certeza de que os portugueses que nele votaram esperam que cumpra o prometido e, se assim for, todos ganharão.
II – No próximo dia 25 de abril, a democracia portuguesa celebra 50 anos de idade e muitos dos portugueses, nascidos antes dessa data, sentem-na como a suplantação das indignidades, perseguições, repressões e humilhações que faziam a essência do estado novo de Salazar e Caetano, e associam-na à restauração das liberdades, individuais e colectivas, do actual regime democrático. Porém, a grande maioria dos portugueses, nascida já após abril de 1974, celebra-a como fazendo – e faz – parte da sua vida quotidiana, da sua liberdade de viver e do exercício da sua cidadania, usufruindo de iguais direitos e deveres.
A lição a reter é que não há democracia sem liberdade e o 25 de Abril simboliza essa conquista para os portugueses. Celebremo-lo, por isso, e empenhemonos em melhorar e aperfeiçoar o sistema democrático português dele nascido. Viva o 25 de Abril!