No momento em que escrevo estas linhas, a guerra na Ucrânia perpetrada pela Rússia acabou de perfazer sete longos meses e salda-se por um imenso e imparável rol de destruição, incluindo perdas de vidas humanas, entre elas várias centenas de crianças, infra-estruturas sociais e económicas, habitações, escolas, creches, hospitais, etc.
O povo ucraniano resiste e sobrevive angustiado e no terror permanente da perda de amigos e familiares e de tudo o mais que é apanágio de uma existência normal, privado das mais elementares condições de vida humana e transformados, de um momento para o outro, em forçados sem abrigos.
As imagens e os relatos que todos os dias nos chegam, via TV e imprensa escrita, chegam a ser confrangedores e ilustram bem os horrores da guerra que é sempre, em última análise, a negação da liberdade da vida e que, no caso concreto, nem sequer se funda num motivo perceptível, para além da megalomania de um homem, o sr. Putin, que, à revelia do seu povo e do direito internacional, se julga talhado para modelar o mundo à sua visão.
Fazer a guerra é fácil, difícil é manter e preservar a paz. E foi por isso que no rescaldo da segunda guerra mundial, em Junho de 1945, as nações se envolveram e esforçaram na negociação e aprovação da Carta das Nações Unidas, decididos como consta da sua introdução a: “ preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade;”e tendo por primeiro objectivo: “manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra qualquer rutura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz”.
O sr. Putin fez tábua rasa do direito internacional e da Carta das Nações Unidas, de que a Rússia também foi signatária, e resolveu invadir um país soberano para o subjugar alegadamente em três dias, o que redundou, como se viu, no seu primeiro desaire e, perante uma reacção patriótica da Ucrânia, resolveu retroceder e acantonar as suas tropas no leste da Ucrânia, flagelando com artilharia e mísseis de vários alcances as vilas e cidades ucranianas.
A todos os horrores já acima referidos, vieram juntar-se as torturas e crimes de guerra perpetrados sobre militares e civis que têm sido noticiados pela comunicação social e confirmados localmente por peritos ao serviço do Tribunal Penal Internacional (TPI) e sob a égide deste.
Perante tudo isto, os EUA, a União Europeia, Reino Unido e países membros da NATO condenaram veementemente a guerra perpetrada pela Rússia contra a Ucrânia, tomaram várias medidas de cariz económico contra o invasor e forneceram equipamentos militares sofisticados ao agredido, o que tem permitido à Ucrânia desencadear uma contra-ofensiva bem sucedida e reconquistar várias povoações e cidades ocupadas pela Rússia. Perante mais este desaire, o sr. Putin, falando à nação russa, anuncia o recrutamento militar de mais 300 mil russos e volta a ameaçar o Ocidente com o uso de armas nucleares, acusando-o, pasme-se, de querer destruir a Rússia.
Perante este cenário, não é de acreditar que o conflito esteja próximo do seu fim.