Este ano assinala-se o centenário do nascimento de Natália Correia. Aos mais novos, este nome, provavelmente, nada dirá.
Nascida nos Açores em 13 de setembro de 1923, foi uma mulher invulgar e multifacetada. A sua obra literária estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio, tendo colaborado frequentemente em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. Enquanto política, deputada à Assembleia da República, interveio ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres.
Ficou conhecida pela forte personalidade, livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, o que se reflete na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias línguas.
Mas afinal quem foi Natália Correia?
Aos interessados aconselha-se a leitura da sua biografia “O dever de deslumbrar” de Filipa Martins. Se, depois de ler 700 páginas, ficar com dúvidas, leia o seu poema “Autorretrato.”
Autorretrato
Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigra
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.