PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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Os políticos e as férias

Setembro ainda é, por tradição, o mês que marca a transição das férias para um novo ano de acção e de trabalho para a maioria das pessoas, pese embora não devamos ignorar aquelas muitas que, para sobreviver, nem férias se permitem ter, aproveitando esse tempo extra para adicionar mais uns euros aos seus escassos proventos.

Não é, porém e felizmente, o caso dos nossos representantes políticos cujas tarefas e responsabilidades, apesar de nem sempre lhes permitirem usufruir, tal como a generalidade dos cidadãos, esse direito na sua integralidade e de uma só vez, o vão gozando espaçadamente.

As férias visam, como é sabido, o descanso e a recuperação das forças exauridas nas respectivas funções, estando por comprovar a integralidade dessa recuperação total quando, como é o caso dos políticos, as mesmas são gozadas intercaladamente.

Seja por isso ou não, a verdade é que no último mês, alguns dos nossos principais políticos emitiram preocupantes sinais de cansaço, quiçá de alheamento, na prestação e desempenho de algumas das suas actividades funcionais.

O Presidente da Câmara Municipal do Porto, Dr. Rui Moreira, deu o dito por não dito no espaço de poucas horas, após ter recebido uma petição assinada por 37 personalidades ilustres e, pelos vistos, zelosas na garantia dos bons costumes, pedindo-lhe a remoção da estátua de Camilo Castelo Branco abraçado a uma mulher desnuda e colocada frente à Cadeia da Relação do Porto, local onde o escritor do “Amor de Perdição” estivera preso em meados do sec. XIX.

Com efeito, após receber a petição dos ilustres, decidiu mandar retirar a estátua do local, mas pouco depois revogou a ordem, alegadamente por a colocação da estátua ter sido decidida e ratificada por decisão unânime do anterior executivo municipal, como era referido numa outra petição de mais de mil subscritores que lhe foi também enviada. Como diz o povo, mais vale tarde que nunca, mas, ainda assim, este comportamento do autarca da cidade invicta não deixa de suscitar fundadas preocupações.

Por seu turno, o Primeiro Ministro, António Costa, que, como nos lembramos, havia saído da primeira sessão do último Conselho de Estado, suspensa pelo Chefe de Estado antes de o mesmo intervir, de modo e a tempo de não perder o avião que o levou à Nova Zelândia para, muito justamente, apoiar a nossa Selecção Feminina de Futebol, acabou por ficar calado no reatamento de tal sessão. Para além de inédito, dizem alguns que tal silêncio, além de ensurdecedor, ainda não parou de ecoar para os lados de Belém, mas cá para mim isto é mais um sintoma preocupante do mau uso das férias ou da sua insuficiência para a revitalização anímica dos políticos.

Por fim e mais recentemente, na sua visita de Estado ao Canadá, onde como é sabido existe uma significativa comunidade lusa, o Presidente da República, Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, foi incansável na sua ânsia de evidenciar a essência do povo português, sintetizando-nos como um país do fado, do bacalhau e do Cristiano Ronaldo. Confesso que nada tenho contra as três apontadas características, mas acho-as muito limitativas, a ponto de me questionar porque não referiu também o nosso PR a sardinha, o carapau, o vinho tinto, o cante alentejano, a caldeirada e o cozido.

Também aqui me quer parecer que as férias do nosso PR, em Monte Gordo, não foram nem suficientes, nem capazes de o restaurar e recuperar do alto desgaste funcional, havendo, por isso, que dar mais atenção às férias dos nossos políticos.