Verificou-se, graças à inflação, um aumento generalizado nos preços dos bens essenciais. No entanto, apesar ter desacelerado em todos os setores, esta mantém-se no alimentar.
Podemos culpar a seca, a guerra, o preço dos combustíveis, dos adubos, da energia, dos pesticidas e dos herbicidas, os impostos, etc., etc., mas parece-me que o problema se resume à imemorial lei da oferta e da procura: produz-se pouco, os preços sobem, produz-se muito, os preços descem. Ao consultar a base de dados estatísticos Pordata, constata-se que o número das explorações agrícolas tem vindo a diminuir. Nos últimos 30 anos, as áreas para a agricultura foram reduzidas para menos de metade, sendo que mais de metade da superfície agrícola em Portugal serve para pastagens permanentes destinadas à produção pecuária.
Ainda, segundo a mesma base de dados, na década de 80, a riqueza criada pela atividade agrícola duplicava o valor atual. O número de trabalhadores também diminuiu substancialmente. Enquanto que em 1989 estavam registados, em território nacional, 1,5 milhões de agricultores, atualmente serão cerca de 650 mil.
Não advogo que todos voltemos a trabalhar nos campos como no tempo dos nossos pais e avós, tanto mais que, e eu que gosto de praticar uma pequena agricultura familiar, oiço imensas vezes, “sai mais barato ir ao supermercado”.
E assim é, de facto, se procurarmos produzir o mais biologicamente possível.
A par da falta de produção há outro fator que me leva a afirmar que os produtos no supermercado não estão caros. Se analisarmos com atenção as bancas das superfícies comerciais mais de metade dos produtos não são nem de origem nacional nem são de época. Parece que só somos felizes se comermos frutos tropicais, uvas sem grainha, cerejas em janeiro ou alfaces embaladas. Se dermos uma volta pelas redondezas veremos ameixas, figos, castanhas, nozes, laranjas, limões, maçãs e muitos mais frutos ao abandono.
Termino relembrando que o Dia da Produção Nacional é celebrado anualmente a 26 de abril, tendo como intuito sensibilizar a população portuguesa para a importância social e económica da produção nacional. Ao incentivar o consumo de produtos nacionais, entre outros benefícios, combate-se o desemprego e talvez não tenhamos de ouvir que os produtos estão caros.