PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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A revolta no Mondego

Calma, não se assustem com o título pois está tudo tranquilo pelas margens do Mondego, esse simpático e pachorrento rio que nasce na serra da Estrela, atravessa Coímbra e desagua na Figueira da Foz, em tempos idos também baptizado pelos estudantes de “Basófias”.

O meu foco é o NRP (navio da república portuguesa) Mondego que, no passado dia onze de março, devido à recusa de metade da sua tripulação em navegar, permaneceu atracado ao cais do Funchal, onde se encontrava, e falhou a missão de acompanhamento e vigia do navio espião russo, “Akademik A. Karpinsky” que, nesse dia, manobrava próximo das águas portuguesas, ao que parece, com destino à África do Sul.

Sabe-se que o Mondego não estava cem por cento operacional, tendo um dos dois motores avariado e um gerador inoperacional mas, ao que consta, estas avarias não eram impeditivas da realização da missão superiormente determinada, nem eram de molde a por em causa a segurança pessoal da tripulação, segundo o seu comandante e a hierarquia da Marinha.

E também é certo que o mesmo e a sua tripulação já deveriam ter sido rendidos por terem ultrapassado o tempo de missão no mar, o que não se veio a verificar por avaria do navio substituto quando este avançava para a rendição, fazendo, assim, prolongar a missão do Mondego.

Estes factos atestam que, pelos vistos, a nossa Armada não navega em boas ondas e que a sua frota deixa bastante a desejar no que respeita à operacionalidade dos seus meios navais mas, ainda assim, teremos de confiar na capacidade de gestão e de chefia dos seus responsáveis para cumprimento das missões que nos são exigidas e mantermos intacta a credibilidade que, ao longo dos tempos, com mais ou menos meios, os marinheiros portugueses sempre souberam granjear.

Neste contexto factual, estranha-se que quatro sargentos e nove marinheiros metade da frota do Mondego – tenham recusado a ordem do comandante de sair para o mar, inviabilizando, assim, o cumprimento da missão de escolta ao navio russo. Entre outras razões, é bom não ignorar que Portugal, para além de membro da NATO, integra a União Europeia que, no conflito que opõe a Federação Russa à Ucrânia, apoia claramente esta e condena veementemente a sua invasão.

Por outro lado, os insubordinados são homens já com larga experiência profissional, alguns deles louvados e distinguidos militarmente, não sendo crível que, para além do cansaço acrescido decorrente do anormal prolongamento da missão, receassem pela sua vida se acaso se fizessem de novo ao mar para cumprir a missão ordenada.

E também não é de crer, atenta a sua já vasta experiência militar, que desconhecessem a gravidade e as consequências da sua recusa em obedecer à ordem do seu comandante.

O que terá então levado estes treze militares a agirem da forma como agiram e a cometerem este grave acto de insubordinação, manchando inalienavelmente as suas carreiras e fazendo-os incorrer nas penas estabelecidas no Código Penal e Disciplinar da Marinha que, no limite, poderão atingir os quatro anos de prisão?

Fosse qual fosse a sua motivação, que decerto a seu tempo se perceberá, o prestígio e o bom nome da Marinha Portuguesa foram manchados pelo seu inusitado comportamento e Portugal, terra de valorosos marinheiros por Camões imortalizados de autênticos heróis do mar, ficou mal na fotografia perante os seus aliados.