PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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TAPALHADAS E OUTRAS ALHADAS

Nas últimas semanas, o país andou enleado nas respostas dos inquiridos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) a propósito da gestão política da TAP e dos últimos acontecimentos nesta empresa pública onde o Estado injectou, ainda não há muito tempo, 3.200 milhões de euros dos nossos impostos.
O Parlamento é, nas democracias, a instituição representativa dos cidadãos ao qual, para além de fazer as leis, compete, entre outras, a missão de fiscalizar a actividade governativa e de apurar o bem ou mal fundado da mesma ou o eventual incumprimento das regras e princípios inerentes a uma correcta e eficiente gestão pública das empresas do Estado.
A TAP, por seu turno, é uma empresa estratégica fundamental para o país e essencial para assegurar as ligações aéreas no universo das relações com os países lusófonos e também no turismo, sector de actividade cada vez mais preponderante na nossa economia. Daí que, tendo em conta um conjunto de decisões tutelares incompreensíveis ou legalmente duvidosas, não espante a criação da CPI com a missão de averiguar e esclarecer esses nebulosos actos de gestão. Tanto mais que, em democracia, a gestão pública deve ser transparente e conforme à lei.
Assim, a partir do início das audições na CPI dos vários agentes e responsáveis pela tutela política da TAP, o país mais parece um vasto auditório de uma absorvente e imperdível novela televisiva do que um lugar onde as preocupações dominantes deveriam ser aquelas que têm a ver com a satisfação das necessidades sociais fundamentais, nomeadamente a saúde, onde as listas de espera por uma consulta ou médico de família crescem de ano para ano, a educação onde a insatisfação dos professores e prejuízo do ensino não têm fim à vista, da escolha do novo aeroporto em estudo inconclusivo há mais de cinquenta anos, da renovação da ferrovia eternamente adiada, do regular funcionamento dos hospitais e SNS e de tantas outras carências sucessivamente adiadas, governo após governo.
Em suma, o trabalho e a missão da CPI são fundamentais para avaliar do regular ou irregular funcionamento das instituições e dos responsáveis políticos, no caso dos que tutelam a TAP. Mas por mais importantes que o sejam, é acima de tudo no país que os governantes devem concentrar a sua acção, por forma a contribuírem, séria e decisivamente, para a satisfação das necessidades e melhoria das condições de vida dos portugueses.
É claro que este assunto tem sido polarizado e amplificado pela comunicação social que, por vezes, exorbita e vai para além do que seria desejável, mas esse é o seu papel numa sociedade democrática, sendo condição bastante que o faça com verdade, o que nem sempre acontece. Porém, apesar de alguns exageros daquela, é sobretudo dos agentes e responsáveis políticos que se espera e exige que falem verdade ao país e assumam, para o bem e para o mal, a responsabilidade dos seus actos e das suas omissões.
Mas também se espera e exige dos mais altos responsáveis do país que, ao invés de pautarem as suas escolhas e decisões muito em função do seu ego e dos índices de popularidade, ajam e façam as suas escolhas de acordo com o superior interesse público e com o bem-estar colectivo.
Talvez, assim, não alimentassem tanto a novela.