Editorial
A morte é difícil de entender e deixa sempre um rasto de dor e sofrimento, nunca estamos preparados, mesmo quando as evidências apontam nesse sentido, como foi o caso do Pedro, que sabiamente foi preparando a caminhada, junto da família e amigos, com uma coragem desconcertante. Mas a partida inesperada da Soraia deixou todos perplexos e sem palavras, parecendo inacreditável. Duas mortes que aconteceram no mesmo dia, mas com partidas tão diferentes. No entanto deixam uma dor igual, com um sentimento de impotência desesperante, já que devia ser proibido os filhos partirem antes dos pais, quebrando o ciclo natural da vida.
O mesmo acontece com os professores, que lidam no dia a dia com os alunos e os consideram como filhos, vê-los partir, tão prematuramente, é também doloroso.
A minha ligação com estes dois jovens teve particularidades diferenciadoras.
No caso do Pedro, quando a Celina refere que o irmão escolheu a sua vocação na escola C+S de Alvaiázere, agora denominada escola básica e secundária Dr. Manuel Ribeiro Ferreira, tive indiretamente alguma influência nessa escolha, pois, quando fui presidente do conselho diretivo da escola, introduzi na área tecnológica, a opção, da vertente agropecuária, que o Pedro frequentou e quando concluiu o 9º ano, aconselhei-o a ingressar na Escola Agrícola das Mouriscas, por considerar esta como um modelo inovador a nível pedagógico, didático e científico na área agropecuária, o que correspondeu às suas expetativas, dando-lhe as bases para o seu brilhante percurso a nível académico e profissional, que infelizmente foi ceifado cedo de mais, deixando tantos projetos por concluir. A nível pessoal ficou uma semente, a sua filha Carlota, que seguirá certamente as pisadas do pai em coragem, força e altruísmo.
No caso da Soraia a ligação foi ainda mais forte e estreita pois fui sua professora da disciplina de história desde o 3º ciclo até ao final do 12º ano. Participou sempre com empenho e sucesso nas atividades desenvolvidas pelo clube de história, presépios e estátuas ao vivo, cantar dos reis, carnaval, recriação de mercados tradicionais e comemorações de efemérides históricas.
Adorava as visitas de estudo e era com muito interesse que descobria parcelas do património cultural histórico e etnográfico. Delirou com a da Polónia, Cracóvia e Varsóvia. Leu livros para se preparar melhor para a visita e falava sensibilizada da temática do Holocausto e das visitas aos campos de concentração de Auschwitz-BirKenau.
Sensível, generosa e altruísta, mas também muito impulsiva e reivindicativa, defendendo os seus pontos de vista de forma empolgada. É uma tristeza infinita a tua perda, mas ficarás para sempre nos nossos corações, pelas vivências felizes partilhadas.
Que o Pedro e a Soraia encontrem a luz eterna E para os familiares deixo um abraço solidário de força e coragem neste momento de extrema dor.