Um grupo de arqueólogos do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) e da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina, Brasil), sob a coordenação de Alexandra Figueiredo, descobriram vários objetos da época romana na Gruta do Bacelinho, localizada na freguesia de Alvaiázere. Depois de devidamente estudados e conservados, os artefactos descobertos durante as pesquisas científicas, que decorreram entre os dias 1 e 14 de julho, serão expostos no Museu Municipal de Alvaiázere e algumas peças estarão também patentes no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, a partir de setembro.
De acordo com Paula Cassiano, diretora do Museu Municipal de Alvaiázere, durante as pesquisas científicas de arqueologia subaquática realizadas no interior da Gruta do Bacelinho, foram descobertos diversos artefactos que remontam ao período romano, dos quais destaca as peças de “material de construção cerâmico; material cerâmico doméstico e fino, como por exemplo alguns fragmentos de sigilata, a fusaiola e as lucernas; material osteológico; material metálico (com forma ou decoração), moedas e espadas”. Além deste espólio, que “é pertença do Museu Municipal de Alvaiázere”, foram ainda encontrados ossos de vários animais, que permitem distinguir a alimentação dos escravos e dos restantes ocupantes da gruta.
A Gruta do Bacelinho tem uma cavidade com cerca de 500 metros quadrados, com uma humidade relativa bastante alta, possui diversas galerias conectadas com duas das salas principais, unidas por uma pequena sala a norte. Algumas das galerias encontram-se submersas. Os vestígios observados durante as intervenções arqueológicas permitiram concluir que se trata de uma cavidade talhada pela exploração de minério, em que a sua ocupação se prolongou desde a época romana até provavelmente à época medieval. Para além da exploração como mina, a equipa de investigação acredita que a mesma, durante a época clássica, terá servido para outras funções, nomeadamente como abrigo, comprovado pela presença de cerâmica fina (sigilata) e elementos de tear. Nesta mesma sala foram recuperados centenas de fragmentos de cerâmica de diferentes tipos morfológicos, vários fragmentos de vidro, uma lucerna decorada com uma cabeça de medusa e uma pequena inscrição na base “LUCRECI”, bem como uma série de objectos de metal, dos quais se destacam duas espadas, uma ponta de lança e uma cunha em ferro. Durante as investigações, os arqueólogos descobriram ainda três lareiras na gruta, “o que significa que a gruta tinha de ter duas saídas”, uma das quais terá sido soterrada ao longo dos anos.
Paula Cassiano revelou ainda que não é a primeira vez que a Gruta do Bacelinho é alvo de investigações arqueológicas. Santos Rocha foi o primeiro a realizar pesquisas arqueológicas na Gruta do Bacelinho, no ano de 1894, tendo descoberto várias peças, nomeadamente “dois machados em bronze, que penso serem únicos no país, e que foram levados para o Museu da Figueira da Foz”.
Após essa primeira pesquisa científica, só em 2011 a Gruta do Bacelinho voltou a receber investigações arqueológicas. Desde 2011, durante o mês de julho especialistas do Laboratório de Arqueologia e Conservação do Património Subaquático do IPT, juntamente com estudantes de arqueologia, fazem escavações na Gruta do Bacelinho. Este ano, as escavações também já terminaram e regressam só em julho do próximo ano, pois “as escavações são feitas por equipas do IPT, senão ficam muito dispendiosas”.
No âmbito deste projeto, o Museu Municipal de Alvaiázere em pareceria com o IPT, a Unisul e a Universidade Autónoma de Lisboa, organizou um conjunto de iniciativas das quais se destacam “Arqueólogo por um dia”, “Seminário luso-brasileiro de Arqueologia e Património” e “Dia da arqueologia subaquática”.