PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

Entrevista de Despedida ao Padre André Sequeira

Depois de 10 anos de missão em Alvaiázere, Maçãs de Caminho, Maçãs de D. Maria e Almoster, o padre André Sequeira parte para Tábua. Em entrevista a O Alvaiazerense, faz o balanço de uma década de serviço, marcada por muitos desafios, mas também profundas bênçãos e laços de amizade que levará para sempre consigo.

O Alvaiazerense (O Alv.) – Como descreve estes dez anos ao serviço das comunidades de Alvaiázere, Maçãs de Caminho, Maçãs de D. Maria e Almoster?

André Sequeira (AS) – Estes dez anos foram um verdadeiro dom de Deus na minha vida e no meu ministério. Servir as comunidades de Alvaiázere, Maçãs de Caminho, Maçãs de D. Maria e Almoster foi, acima de tudo, uma oportunidade de caminhar junto de tantas pessoas, partilhar alegrias e dificuldades, celebrar a fé e testemunhar a presença de Cristo no meio de nós. Sinto que ajudei a tornar a comunidade mais crente e com uma fé mais partilhada, mais vivida em comunhão e em co-responsabilidade. Procurei promover o espírito de unidade e de proximidade, valorizando os dons de cada um; desenvolvi diversos projetos, quer com os jovens, que são o presente e o futuro da Igreja, quer com a comunidade no seu todo, incentivando a participação ativa, o serviço, o testemunho e a construção de uma Igreja viva e dinâmica.

Fui aprendendo que ser pároco é, antes de mais, caminhar com o povo, partilhar alegrias e dores, orientar com humildade e estar presente e próximo da vida das pessoas. Posso aferir que, o balanço é muito positivo e que levo comigo muitas memórias, rostos e histórias que ficarão para sempre gravados no meu coração. Nem sempre tudo correu como idealizei, mas tudo serviu para moldar o coração e fortalecer a vocação. Foi uma década de crescimento, de desafios e de bênçãos, na qual procurei sempre abraçar esta missão com espírito de entrega e confiança em Deus, com tempo, discernimento, paciência e escuta, dando o melhor de mim ao serviço de Deus e destas comunidades.

O Alv. – Que momentos ou experiências mais o marcaram neste tempo?

AS – Foram muitos os momentos marcantes ao longo destes dez anos. Destaco sobretudo a beleza de celebrar os sacramentos desde os batismos, em que acolhi novos membros na fé, até às primeiras comunhões e crismas, onde vi a fé a crescer nos mais jovens. Também os casamentos e as festas dos padroeiros e todas as festas, sempre vividas com tanta alegria e devoção, foram experiências muito ricas. Não posso deixar de recordar, com emoção, os momentos de dor partilhada nas exéquias, em que juntos rezámos e confiámos a Deus aqueles que partiram. Foram experiências que me ensinaram muito sobre a força da fé, a importância da comunidade e a presença de Cristo em todas as etapas da vida.

O Alv. – Sentiu mudanças significativas na vivência da fé ou na relação das pessoas com a Igreja ao longo desta década?

AS – Sim, ao longo destes dez anos senti muitas mudanças na forma como as pessoas se relacionam com a fé e com a Igreja. Por um lado, noto que a vida moderna traz muitas exigências e que, por vezes, a prática religiosa se vê fragilizada. Contudo, também pude testemunhar um desejo genuíno de muitas pessoas em aprofundar a sua relação com Deus e em participar mais ativamente na vida da comunidade. Foi particularmente bonito ver como alguns que se diziam não crentes se aproximaram da Igreja, encontrando nela um espaço de acolhimento e de fé. Muitos casaram e hoje continuam a manter uma presença ativa nas celebrações, dando testemunho da sua fé na vida familiar e comunitária. A presença dos jovens nas catequeses, nos grupos e nas celebrações foi também um sinal de esperança, e a dedicação de tantos leigos ao serviço das paróquias mostrou que a fé continua viva. Creio que o maior desafio é ajudar cada pessoa a redescobrir a alegria do Evangelho e a sentir que a Igreja é a sua casa.

O Alv. – O que foi mais difícil neste percurso? E o que mais o enriqueceu pessoalmente e espiritualmente?

AS – O mais difícil neste percurso foi, sem dúvida, enfrentar os momentos de sofrimento e de dor nas comunidades, como quando perdíamos pessoas queridas ou quando as dificuldades da vida se tornavam pesadas para algumas famílias. No início, a mudança de paróquias e o processo de me adaptar a novas realidades e formas de vida também foram desafios significativos, exigindo tempo e paciência para compreender e acolher cada comunidade.

Por outro lado, o que mais me enriqueceu pessoal e espiritualmente foi, precisamente, caminhar ao lado das pessoas em todas as etapas da vida. Celebrar os sacramentos, acompanhar famílias, jovens e idosos, doentes, partilhar alegrias e dificuldades, e testemunhar a fé viva de muitos que se aproximaram da Igreja. Cada encontro, cada sorriso, cada gesto de solidariedade e de fé deixou marcas profundas no meu coração e fortaleceu a minha relação com Deus, recordando-me sempre que o ministério sacerdotal é, antes de tudo, um dom e um serviço de amor.

O Alv. – Como vê o futuro desta Unidade Pastoral e que mensagem deixa às comunidades que agora deixa?

AS – As comunidades têm pessoas dedicadas e o desafio é manter a chama da fé acesa, especialmente entre os mais jovens, e continuar a abrir o coração a todos, sobretudo àqueles que ainda se sentem afastados da Igreja.

Confesso que me é muito difícil partir, porque aqui criei laços fortes, amizades sinceras e senti, em cada momento, que somos verdadeiramente uma só família. Em cada abraço recebido, em cada sorriso partilhado e em cada oração, construímos uma ligação que permanece para além do tempo e da distância. Não vos vejo apenas como paroquianos, mas como uma verdadeira família na fé. E esta fraternidade é recíproca: sinto-me imensamente abençoado por ter caminhado convosco e espero poder continuar ao vosso lado, mesmo que o caminho me leve noutra direção. Recordo as palavras de Antoine de Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”

Quero deixar um profundo e sincero agradecimento a todas as paróquias pelo acolhimento desde o primeiro dia, pelo carinho, pela confiança, pelo companheirismo e pelo exemplo de fé que tantas vezes me deram. Peço-vos que continueis a caminhar unidos, fortalecendo a fé uns dos outros, apoiando-se nas alegrias e nas dificuldades, e mantendo a Igreja sempre como a casa de todos. Que cada celebração, cada gesto de solidariedade, cada encontro de oração seja vivido com alegria e esperança, lembrando que a beleza maior está em caminhar com Cristo, lado a lado, na vida de cada dia e na vida da comunidade. Um agradecimento especial ao Pe. Celestino, ao Pe. Jacinto, ao Diácono Carlos e a tantos leigos que, com dedicação e generosidade, servem as nossas comunidades. Obrigado de coração a todos os que colaboraram comigo neste serviço pastoral. Deixo-vos uma certeza: quem não vive para servir, não serve para viver. Levo-vos a todos no coração.

O Alv. – O que sentiu ao receber a nomeação para pároco de Tábua? Que expectativas tem em relação a essa nova missão?

AS – Ao receber a nomeação para pároco de Tábua foi um misto de emoções. Confesso que fiquei triste por ter de deixar as paróquias que servi com tanto amor e dedicação durante dez anos, como sabemos a mudança nunca é fácil. É recomeçar tudo de novo, aprender a conhecer novas comunidades e compreender uma nova realidade. Procurarei dar o meu melhor e fazer do meu ministério a pastoral da proximidade com os irmãos, nos momentos de alegria e de tristeza daqueles que fazem parte das nossas comunidades e volto a dizer como São Paulo: «Para mim viver é Cristo… Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».

O Alv. – Que mensagem gostaria de deixar, em especial, aos jovens da região?

AS – A todos os jovens destas paróquias e aos elementos do grupo AMMA quero deixar uma palavra de confiança e de coragem. Não tenham medo de viver a fé com alegria e de se envolverem na vida das comunidades. A Igreja precisa da vossa energia, criatividade e coragem para construir um futuro mais solidário e cheio de esperança. Participem, perguntem, procurem conhecer Cristo e deixem que Ele guie a vossa vida. Cada um de vós é especial, único e é chamado a ser luz no mundo. A vossa presença, nas celebrações, nos grupos e nos projetos comunitários, é fundamental para que a fé continue viva. Nunca subestimem o poder do vosso testemunho, das vossas escolhas e do amor que podem partilhar. Quero dizer-vos que estarei sempre aqui para o que precisarem e que estou muito orgulhoso por tudo aquilo que fomos desenvolvendo e construindo juntos. Nunca se esqueçam que vocês jovens não são o futuro de amanhã, são o presente de hoje e a Igreja conta convosco.

Carina Gonçalves