PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

antonio_goncalves

Concordâncias e Discordâncias

A diferença de opiniões e a interpretação das situações é diferente de pessoa para pessoa, de interesse para interesse, e depende muitas vezes do que se quer defender. Não nos leva a outra conclusão as declarações dos nossos carrascos económicos dos últimos 3 anos. Enquanto os internacionais chegaram à conclusão que nos infligiram normas e obrigações que muito contribuíram para a perda da nossa dignidade, o nosso governo, o carrasco interno, mais feroz ainda que o externo, acha que não, que nunca fomos feridos na nossa dignidade.

Ora filosoficamente, o princípio da dignidade humana, a regra moral que enuncia que a pessoa humana não deve nunca ser tratada como um meio, mas sim como um fim em si, ou antes, visto que é impossível aplicar esta fórmula rigorosamente, que o homem nunca deve ser empregado como meio sem se tomar em conta que ele é ao mesmo tempo um fim em si.

Será que as medidas tomadas pelos nossos governantes para tornar o País e os portugueses mais pobres, as medidas tomadas para que quem tinha emprego ficasse sem ele, para que quem vivia razoavelmente no seu país tivesse de emigrar para dar de comer à sua família, o roubo que fizeram a quem tinha algo de seu e o fizeram passar de remediado a pedinte, não é perda de dignidade? Será que os trabalhadores e os reformados que tinham os seus rendimentos mensais certos, justos, e que os tinham obtido por direito e honestamente, à custa dos seus descontos, ao verem-se espoliados de parte desses bens e terem que deixar de pagar os seus compromissos, de terem de se socorrer da ajuda alheia, não sentem perda de dignidade? Ou apenas nos tiram dignidade no facto de nos exigirem transparência e que ponhamos as contas bancárias à disposição das entidades político/fiscalizadoras quando recebemos rendimentos ou proveitos meio obscuros? Não é tirar dignidade, obrigar idosos passarem horas e horas em macas nos hospitais, muitas vezes deixá-los morrer, porque não se quer gastar dinheiro com eles? Não é tirar dignidade aos trabalhadores quando lhes cortam salários, mesmo que eles de tão curtos já não chegam para matar a fome da família? Não é tirar dignidade a quem trabalha com um dos horários diários mais longos da Europa, chamar-lhe de preguiçosos e tirar-lhe constantemente direitos, para benefício de patrões e capitalismo selvagem? Não é tirar dignidade obrigar os trabalhadores a medidas e condições humilhantes pelo mesmo capital? Não é tirar dignidade a um povo ver os seus governantes fazer de animais amestrados, o primeiro-ministro sempre serviente e semi-curvado, um passo atrás da sua domadora, a chanceler alemã, ou a ministra das finanças feita marionete sorridente e submissa ao lado do sinistro ministro das finanças alemão, corroborando e aplaudindo na mentira de que as medidas aplicadas a Portugal foram as correctas e geraram sucesso ao País?

A minha dignidade fica ofendida quando vejo estes senhores sujeitarem-se a estes papéis, apenas porque não querem dar a mão à palmatória, porque os seus ideais os cegam a tal ponto que só veem benefícios onde apenas há tortura, castigo, definhamento. Bajulam reconhecidos quem se aproveita das necessidades alheias (foram um dos que nos emprestaram 78 mil milhões de euros, mas segundo os próprios economistas alemães a economia alemã já lucrou 60 mil milhões de euros desde que chegou a crise à União), não tendo a coragem de, nos momentos oportunos, fazer ver a esses senhores que não estão a ser solidários com os seus parceiros, apenas são usurários com a sua aparente ajuda. E quando alguém quer demonstrar esse facto, ficam contra eles e transformam-se em mais alemães que os próprios alemães. Assim aconteceu no tempo de Hitler e no holocausto.

É tempo dos espoliados por estes senhores e pelos seus próprios governos, acordarem e se aliarem a quem está disposto a lutar e demonstrar tais práticas.