Já há vários anos a esta parte, comentei nas páginas deste jornal, a hipocrisia de grande parte dos portugueses, sobre três temas que dizem respeito, na minha opinião, apenas à pessoa que se julgue dono e com direitos sobre o seu corpo e a sua vida, que considere ter liberdade sobre o que fazer com eles: o aborto, a eutanásia e a prostituição.
Toda a gente sabia que se faziam abortos clandestinamente, toda a gente sabe que há portugueses endinheirados que levam familiares ao estrangeiro fazer a eutanásia e toda a gente sabe que a prostituição se pratica em todo o território nacional. Mas prefere-se olhar para o lado e fazer de conta que não se vê e para os falsos puritanos são temas que trazem sempre associado o diabo. Como se tem verificado, felizmente essas suas profecias não se têm realizado. Com a legalização da interrupção voluntária da gravidez os abortos não aumentaram, pelo contrário diminuíram, e com a legalização da prática da eutanásia, também não teremos, de certeza, a invasão do diabo ao nosso País.
Defendem os que são contrários à legalização da eutanásia que esta é inconstitucional face ao artigo 24.º da Constituição. Sem ser legista e totalmente leigo nessa matéria, penso que para haver violação, tem de haver abuso, violência de outra pessoa. Não será o caso porque é a vontade própria do doente que está em causa. Outros que a dignidade do doente tem de estar acima de tudo. Terá que ser o doente a reconhecer ou não essa dignidade e que dignidade tem a vida de um ser humano que não consegue falar, que não se sabe se ouve ou não, que não consegue mexer-se, apenas se lhe percebem esgares de dor e sofrimento? Que nobreza está na doença de um ser humano, quando a família e os próprios agentes da saúde dizem que está a sofrer de tal maneira e com isso involuntariamente fazer sofrer os outros, que o melhor era Deus levá-lo o mais depressa possível? Não terá mais respeito por si próprio, portanto mais dignidade, quem pede ou pediu que o ajudem na morte, o indivíduo que face ao seu estado físico, sofre desmesuradamente, física, psíquica e mentalmente? E já agora pergunto: se o doente que pede ou pediu que o ajudem a morrer, tivesse condições físicas para isso, não se enforcaria, não se afogaria, não se atiraria de uma ponte ou prédio abaixo? Simplesmente, não se suicidaria? Seria esta morte mais digna ou dignificante?
Para terminar direi que a melhor interpretação ou significado que já encontrei para a hipocrisia é: vício que consiste em fingir uma devoção, uma virtude, um sentimento que não se possui. Não sejam viciados portanto…