PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

antonio_goncalves

Concordâncias e Discordâncias

Desilusão!… Desistência!… Luta!… Para quem se lembra ainda que remotamente dos últimos anos da década de 40 do último século, tempo de miséria do após 2.ª guerra mundial; para quem se lembra nitidamente que as crianças do seu tempo passavam fome, não sabiam o que era um pouco de manteiga no pão, muito menos o que era um bife de bovino ou novilho; para quem se lembra das crianças andarem quilómetros a pé, a maior parte descalças, quer chovesse, nevasse ou fizesse sol, para irem à escola; para quem se lembra do magro naco de pão, acompanhado quando o era, de meia dúzia de azeitonas, de uma petinga ou meia sardinha para o seu almoço; para quem se lembra das prisões arbitrárias de pessoas sérias e boas só porque não concordavam com o regime daquela altura e tinham a coragem de o demonstrar; para quem se lembra que um pai de família tinha de trabalhar de manhã quando o sol nascia, até à noite quando ele se punha para levar uma parca broa de milho como paga do seu dia de trabalho para poder alimentar a família; para quem se lembra do enorme analfabetismo e obscurantismo existente no nosso País, foi um raio de esperança o 25 de Abril.

E os portugueses começaram a ter conhecimento dos seus direitos, começaram a ter ânimo e forças para por eles lutarem. Não foi fácil, tendo muito contribuído para as dificuldades a magnanimidade dos fazedores do 25 de Abril, assim como dos que tomaram as rédeas do poder. Pessoas confiantes na democracia e nas qualidades dos seus ideais, pessoas ingénuas ao acreditarem que os benefícios que a democracia trazia ao povo, seria o suficiente para que esse mesmo povo a defendesse com unhas e dentes. Não contaram com as artimanhas dos defensores do antigamente, com os que ansiavam por poder e riqueza a qualquer preço, com os fracos e ignorantes que se deixam enganar e corromper com grande facilidade. Também, porque muitos não souberam transmitir aos seus descendentes os valores da honradez, da solidariedade, do respeito para com os outros e para com as instituições que deviam velar, proteger e honrar o ser humano. Ainda, porque muitos transmitiram o seu exemplo de soberba, vigarice, ânsia de poder e de enriquecimento a todo o custo, cobertos pela sombra dos poderosos política e financeiramente, também algumas vezes judicialmente.

E assim chegámos à geração poderosa dos nossos tempos. E a vontade forte e agir desses indivíduos começa a desiludir um povo que começou a ter esperança, chegou a ver frutos da nova situação em que se vivia e agora os vê desaparecer na voragem dessa canalha.

Havemos de nos deixar derrubar por essa desilusão? Vamos desistir e deixar roubar tudo o que conquistámos e nos pertence? Vamos deixar que os abutres do nosso tempo e seus descendentes nos levem para tempos que não desejamos voltar a viver ou deixar de herança aos nossos filhos? Não. Há que lutar, há que com os poderes que temos “Há que lutar, há que com os poderes que temos nas mãos, principalmente os poderes da democracia, escorraçar esses indivíduos, tirá-los dos meandros do poder e não mais deixar que outros com as mesmas ideias, ânsia de poder e ganância de enriquecimento ilícito, ponham todo um povo em estado de cobardia, descrença e miséria.” nas mãos, principalmente os poderes da democracia, escorraçar esses indivíduos, tirá-los dos meandros do poder e não mais deixar que outros com as mesmas ideias, ânsia de poder e ganância de enriquecimento ilícito, ponham todo um povo em estado de cobardia, descrença e miséria.

Olhemos para a letra do nosso Hino Nacional, criado depois do que historicamente ficou conhecido como o caso do "mapa cor de rosa". Segundo os historiadores a versão inicial da última frase seria "contra os bretões, marchar, marchar". Versão que os governantes não deixaram passar e que foi substituída por "contra os canhões, marchar, marchar". Acordai povo português e lutemos com todas as nossas forças. Inculquemos no nosso espírito e enchamos a nossa vontade com a alegoria que retiramos do nosso Hino e gritemos ao mesmo tempo que agirmos "contra os ladrões, marchai, marchai."