Muito recentemente o Presidente da República, no prefácio do seus “Roteiros VII”, veio desfazer dúvidas, se é que as havia, relembrando que a austeridade durará pelo menos mais vinte anos e para condições excepcionais. É um facto que há progressos na consolidação das contas públicas, mas manifestamente desproporcionada aos elevados sacrifícios pedidos aos portugueses. Mas o mais grave é a sua insuficiência para tornar a dívida pública sustentável. Tendo essa percepção e a propósito, surgiu um manifesto de 74 personalidades dos mais variados quadrantes políticos, sociais e económicos, de apelo à reestruturação da dívida, que permita a Portugal sair da crise, mais célere. Propunha-se uma renegociação no sentido de se obterem menores taxas de juro e prazos mais dilatados, para que o esforço do pagamento seja compatível com a estratégia de crescimento, investimento e criação de emprego. A reacção a este documento de consenso, foi estridente e diabolizado pela inoportunidade, talvez por estarmos à beira de eleições europeias e porque ao que dizem, estas negociações deverão ser feitas em “segredo.” Concluímos que todos sabem que a dívida é insustentável, bem como, a solução não ser apenas de foro interno, mas estando dependente das instâncias e decisões europeias; assim, mais tarde ou mais cedo, as renegociações surgirão. Só que o clima, do “é para pagar” é necessário e fundamental para a implementação de um programa politico, amplamente publicitado como ir para além da receita da “troika”. Os políticos que nos governaram nestas últimas décadas, permitiram a criação do famoso “monstro”, com um Estado Social permissivo, pouco fiscalizador e demasiado gastador, para além, de a troco de um punhado de euros rapidamente desbaratados, consentirem na destruição da nossa indústria, pesca e agricultura. Erros demasiados, que criaram a oportunidade, volvidos quarenta anos da revolução de Abril, de assistirmos a um brutal ajuste de contas. Nu e cru!