PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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João José Maria: um notável alvaiazerense do século XIX

Continuação do número anterior

Estes seus amigos deixaram ainda registado, no referido jornal, que "A memoria de João José Maria de Moraes, de Alvaiazere, jámais se perderá, seu nome se repetirá de geração em geração."

"Quem diria, que a philarmonica, a mais antiga das villas da provincia, e que este varão prestante, apaixonadissimo por este genero de divertimento innocente e recriativo, creara e conservava ha tantos annos; havia de ensaiar com elle a musica para o seu funeral? Por desgraça nossa assim aconteceu; porque seu enterro celebrou-se com a maior pompa no dia 18; e os membros da philarmonica, á excepção de Cassiano de Loné Frazão, que não poude ser superior a si mesmo, fazendo um esforço tão corajoso, poderam, executar o officio funebre, que, com seu extremoso director, haviam ensaiado para fim mui diverso!"

Também o seu grande amigo Manuel Joaquim dos Santos, de Figueiró dos Vinhos, escrevera, a 10 de Março de 1862, um artigo que viria a ser publicado no periódico O Tribuno Popular, n.º 643, VII ano, com data de 26 de Março desse ano, página 2. Pelo seu significado histórico, citamos algumas dessas palavras: "Quem me diria, há tão pouco tempo, que eu o tinha abraçado em minha casa que era tambem d'elle, e que elle veio a esta villa [Figueiró dos Vinhos] da melhor vontade auxiliar-me na festividade de trasladacção da Mizericordia, coadjuvando n'essa funcção a filarmonica desta villa [Figueiró], que seria o derradeiro abraço cordial que reciprocamente davamos?… (…)

Nasceu João José Maria de Moraes em Alvaiazere; era constitucional do coração, e por isso foi nos fins de 1832 alistar-se em um dos batalhões da cidade invicta, aonde durante o cerco, e até á restauração fez relevantes serviços ao trono constitucional. E finda a guerra voltou para sua casa, aonde sempre viveu em santa paz até aquelle infausto dia, porque não tinha inimigos; sempre foi querido e estimado de todos, dos pobres e dos ricos, porque a todos servia, a todos obsequiava. Foi alli capitão, e instructor da guarda nacional – em cuja qualidade continuou a prestar serviços; habil pharmaceutico; professor d'instrucção primaria; director do correio, serviu muitas vezes por vontade dos povos, e das pessoas principaes da sua terra, de juiz ordinário, sub delegado – mais empregos municipaes, e em todos estes suportou sempre com bom caracter, actividade, probidade, inteireza, e intelligencia inexcedíveis. Era director da bella, e antiga filarmonica de Alvaiazere, por elle instituida, e da qual fazia parte tocando com perfeição diversos instrumentos, e por seu genio franco e bondoso coadjuvou sempre e engrandeceu a filarmonica desta villa, que á sua memoria e honradez deve muitíssimos serviços."

Foi talvez, devido à tenacidade de homens como este, que no interior do país, se conserva ainda bem vivo este amor de servir o próximo em prol do progresso de toda uma região. Estou certo que João José Maria de Morais bem merece este reconhecimento, deixando antever que um dia, que se quer breve, seja também o seu nome fixado numa das ruas de Alvaiázere ou quem sabe, lhe seja feita uma estátua para memória futura.