PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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A praga de javalis

Vou abordar um tema que preocupa muitos dos leitores do “ALVAIAZERENSE” e a população do interior do país em geral e da zona centro/terras do Sicó, em particular.

De há uns anos para cá, sempre que a conversa incide sobre colheitas, sementeiras ou produção hortícola, os meus interlocutores afiançam-me, invariavelmente, num misto de indignação e frustração, que os javalis dão cabo de tudo, chegando mesmo, nalguns casos, a ameaçar a qualidade da sua subsistência, dada a persistência e repetição das visitas nocturnas e consequente destruição das suas hortas, vinhas e terrenos de cultivo.

E se no centro e norte do país as vítimas dos javardos são, preferencialmente, os pequenos agricultores do minifúndio, no Alentejo a devastação e ruína atinge muito maiores proporções dada a mais elevada escala das áreas de cultivo.

O semanário EXPRESSO, de 05 de Julho de 2023, referia que os prejuízos provocados pelos javalis nas searas de milho em Portugal ascenderam a oito milhões de euros, em 2022, segundo um levantamento divulgado, dias antes, pela Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS).

E a ANPROMIS concluía que o aumento descontrolado da população de javalis, verificado nos últimos anos no nosso país, “está a causar avultados e crescentes prejuízos no sector agrícola nacional”, mesmo para lá das culturas de milho.

Na sequência deste estudo, a ANPROMIS reuniu-se com a Direcção do ICNF (Instituto da Conservação da Natureza) com vista à tomada de medidas no sentido de estancar o crescimento da população de javalis mas, até à queda do Governo anterior, nada foi feito no sentido de pôr algum travão na problemática. Como tal, o número de Javalis cresceu, entre 2019 e 2023, de 163.157 para cerca 391.612 animais e entre 2019 e 2020 foram registados um total de 1.093 acidentes rodoviários envolvendo o javali, segundo consta do Relatório Final dos resultados do Plano Estratégico e de Acção do Javali em Portugal (setembro 2020 – dezembro 2022), elaborado pela UA (Universidade de Aveiro).

Mas os prejuízos decorrentes do vertiginoso aumento de Javalis não se esgotam nos danos agrícolas e nos acidentes rodoviários a que, anualmente, dão causa, incidindo também sobre os perigos para a saúde pública decorrentes da propagação de doenças como a tuberculose, a triquinose e a grave peste suína africana (PSA) que foi um pesadelo na passada década de sessenta e que é um autêntico temor para os criadores de pecuária extensiva.

Como forma de minorar o problema, o citado relatório da UA preconiza a tomada de algumas medidas de actuação, nomeadamente: i) uma nova cultura venatória, orientada por objectivos concretos; ii) investimento em medidas preventivas para proteger as culturas; iii) financiar investigação aplicada que tenha por objectivos concretos o controlo populacional.

O actual Governo anunciou a concretização da primeira, mediante a alteração cirúrgica do artigo 88º do Decreto-Lei nº 202/2004 que regulamenta a caça e que poderá vir a contribuir para a redução do número de javalis, mas, sem outros incentivos específicos, temos fortes dúvidas sobre o sucesso da mesma.

E, já agora, o que pensam e preconizam os nossos autarcas que conhecem o problema e sentem com proximidade e conhecimento de causa o impacto destrutivo da praga nas culturas e na vida dos seus munícipes?