Aos leitores peço compreensão e indulgência por, ao invés do habitual, usar este espaço de livre opinião para exaltar algumas virtudes e exorcizar as minhas profundas mágoas pela perda, recente e algo inesperada, de um maçanense e amigo do coração, o Vítor Sousa.
Foram mais de meia centena de anos de convívio, aqui e ali entrecortados pelas ausências decorrentes dos compromissos profissionais e sociais das nossas vidas, mas contínua e indelevelmente ligados pelo cimento de uma amizade e companheirismo que remonta aos anos cinquenta e só a morte logrou romper.
Começamos crianças, com as traquinices e curiosidades próprias desses tempos, atravessamos a juventude e adolescência acumulando saberes e partilhando experiências, negativas e positivas e, quando demos por nós, éramos já adultos, pais responsáveis e cidadãos socialmente contribuintes.
Ao contrário de muitos de nós, ditou a sua vida que, salvo uma ou outra experiência laboral de curta duração, o Vítor tivesse mantido o centro da sua vida familiar e profissional em Maçãs de Dona Maria, onde nasceu, o que fez dele um dos maiores conhecedores das pessoas e da realidade social desta freguesia e do concelho de Alvaiázere.
Não espanta, por isso, que tenha sido, desde cedo, um entusiasta do associativismo e militante activo de várias associações concelhias como é o caso da ACREDEM, da Casa do Povo de Maçãs de Dona Maria e do Rancho Folclórico, do Clube de Caçadores e da Casa do Povo de Alvaiázere.
E também não surpreende que a partir de 1990 tivesse integrado as Listas do PSD e sido eleito membro da Assembleia Municipal de Alvaiázere (AMA), na qual se manteve por mandatos sucessivos até ao fim da sua vida, sendo, à data, um dos mais antigos Deputados da mesma com 35 anos de exercício ininterrupto.
Recordo com nitidez, nos dois mandatos que cumpri na AMA, as abundantes trocas de impressões com ele havidas sobre algumas das muitas propostas ou temáticas em apreciação na Assembleia Municipal e a pertinência dos contributos ou alertas que me transmitia só possíveis pelo seu profundo conhecimento do tecido social e empresarial alvaiazerense.
Mas além de associativista e autarca, o Vítor era um homem bom e generoso, amigo do seu amigo, sempre pronto a ajudar ou a acudir a uma emergência, amante do convívio e de celebrações sociais, fomentando a sã convivência, a confraternização e a boa disposição. Um testemunho disso foi a abertura e manutenção, por vários anos aos domingos de manhã, de uma das divisões do seu escritório, situada na rua principal de Maçãs e popularmente denominada por “Tertúlia”, onde por norma nunca faltava o petisco, de queijo, presunto ou chouriço, acompanhado de multifacetadas castas de vinho branco ou tinto da região. Ali se partilhavam notícias e acontecimentos, se ouviam e contavam histórias mais ou menos venturosas, se comentava a actualidade semanal. Em suma, ali se convivia e confraternizava, se desfiavam recordações, se encontravam amigos e conhecidos da actualidade e de outros tempos.
O Vítor partiu e a “Tertúlia” fechou, mas a sua memória continuará eternamente viva em todos aqueles que tiveram o privilégio, como eu tive, de o contar como amigo. Paz à sua alma e até sempre!