Dezembro é, a cada ano que passa, um tempo tradicionalmente virado para a celebração, o convívio e a união familiar associado ainda, no caso dos cristãos, à celebração do nascimento de Cristo e às prendas no sapatinho.
Talvez por isso, lá no fundo do nosso íntimo, sejamos induzidos a crer que esse é também um tempo propício a tréguas entre inimigos, à paz entre desavindos, à concórdia entre opositores e à tolerância com os intolerantes.
Porém, se nos perguntarem se foi isso que se passou neste final de ano, quer no país, quer no mundo, a resposta não pode deixar de ser senão profundamente negativa. Só para referir alguns dos factos negativamente mais relevantes, à margem dos que dia a dia resultam da crueldade das guerras em curso na Ucrânia e na Palestina, assinalamos que, a 21 de dezembro, o Tribunal de Avignon, França, condenou 51 réus a penas de prisão variadas pelo cometimento de vários crimes de violação sexual de Gisèlle Pelicot, perpetrados durante quase 10 anos em conluio com o respectivo ex-marido que apanhou a pena máxima de 20 anos de prisão. Durante tais actos, a vítima era drogada e depois violada em estado de plena inconsciência.
No mesmo dia, no mercado de natal em Madgeburg, Alemanha, um médico-psiquiatra irrompeu ao volante do seu automóvel por ali dentro e atropelou um conjunto de pessoas que, tranquilamente, fazia as suas compras natalícias das quais morreram 5 e resultaram mais de 200 feridos, 40 destes em estado grave.
O agressor, oriundo da Arábia Saudita, residia na Alemanha há cerca de 20 anos.
Por cá, no dia 20 de dezembro, a PSP levou a cabo uma rusga policial (operação especial de prevenção criminal) na zona do Martim Moniz, Lisboa, que culminou na detenção de 2 indivíduos, um procurado por crime violento, e outro por estar na posse de uma arma branca e de uma porção ilegal de cannabis, tendo ainda sido apreendida uma centena de artigos contrafeitos e cerca de 4.600 euros.
De Bruxellas, onde se encontrava, o Primeiro Ministro (PM) apressou-se a dizer que a operação da PSP foi muito importante para criar visibilidade e proximidade no policiamento e aumentar a sensação de tranquilidade dos portugueses.
Apesar de ser a quarta operação semelhante no ano em curso, a direita aplaudiu, a esquerda criticou-a e o PR (Presidente da República) recomendou recato e respeito pelas regras consticionais nas acções policiais. Os populares da zona e muitos comentadores acharam-na, no mínimo, aparatosa.
Nos dias seguintes, porém, o tema foi assunto debatido nas TVs com comentários para todos os gostos, pró e contra, sendo certo que ninguém ousou por em causa a necessidade de levar à prática operações como esta, para segurança e defesa do estado de direito democrático, observando as regras e estritos termos de execução legais, mas abstraíndo e dispensando todas e quaisquer manifestações gratuitas de exibição de poder. Com efeito, num estado de direito democrático, o poder deve ser exercido de acordo com o estabelecido no quadro jurídico-constitucional e legal com peso, conta e medida para obtenção do efeito desejado. Nem mais, nem menos.
Uns dias depois da rusga, o Martim Moniz continuava como antes, o que leva a crer que, para mudar efectivamente a realidade, as rusgas por si só não chegam. São precisas políticas de imigração realistas e práticas de inclusão efectivas.
Para os leitores do ALVAIAZERENSE e seus familiares, votos de um próspero 2025!