Já lá vai quase um ano de guerra entre Israel e o Hamas, movimento terrorista que se assume como representante do povo palestiniano da Faixa de Gaza – pese embora se mantenha no poder desde 2006 sem posterior legitimação eleitoral – e, apesar da esperança criada com as negociações em curso, visando pôr-lhe termo, as perspectivas de tal vir a acontecer em breve são muito pouco optimistas.
Todos sabemos que não há guerras limpas e isentas de custos e perdas humanas, sendo que, já no sec. XVII, o Padre António Vieira as definia como “ monstros que se alimentam de sangue e nunca se saciam”. Mais de três séculos depois, a sua visão permanece actual e é corroborada, quase quotidianamente, pela brutalidade das imagens e notícias que, sobre elas, as TVs nos projectam casa dentro, com ou sem rótulo de que podem ferir a nossa susceptibilidade.
Este conflito remonta a sete de outubro de 2023, quando o Hamas decidiu passar a fronteira com Israel e atacar pessoas que, pacificamente, participavam num festival de música, causando cerca de 1.200 mortos e levando consigo mais de duas centenas e meia de reféns (251). De então para cá, estima-se que o número de mortos, palestinos e israelitas, tenha já ultrapassado os 40.000, entre os quais mais de 15.000 crianças.
Mas o balanço e as consequências do conflito não se esgotam nas perdas de vidas, acrescendo a estas a quase total destruição das edificações e infra-estruturas de apoio social e humanitário à vivência humana na Faixa de Gaza, designadamente, habitações, escolas, hospitais, redes sanitárias de água e luz, etc. e as ameaças à saúde pública.
Apesar das causas próximas do presente conflito remontarem a outubro do ano passado, a verdade é que as suas origens históricas são muito mais antigas e assentam, sobretudo, no recrudescimento dos nacionalismos, árabe e judeu (sionismo), a partir do início do sec. XX. Até então, árabes e judeus tinham coexistido e vivido no território palestiniano, ainda que com algumas escaramuças episódicas entre ambos os povos.
Com o advento da 1ª Guerra Mundial e o fim da influência e domínio do Império Otomano sobre a Palestina, a Grã-Bretanha recebe da Sociedade das Nações, em abril de 1920, na Conferência de San Remo, um Mandato para administrar o Iraque e a Palestina, acolhendo e validando a denominada “Declaração Balfour” que reconhecia a existência do povo judeu e a criação na Palestina de um “Lar Nacional Judaico”.
Este reconhecimento foi amplamente contestado pelo mundo árabe que desencadeou violentas hostilidades contra os britânicos e a comunidade judaica, dando lugar a vários motins e massacres que se perpetuaram até ao eclodir da segunda Guerra Mundial e mesmo após o termo desta.
Em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclamou a independência do Estado de Israel que viria a ser reconhecido nesse mesmo dia pelos Estados Unidos (EUA) e, no primeiro semestre de 1949, pela França e pelo Reino Unido. Não obstante, o conflito entre as duas comunidades – judaica e palestiniana – persiste até aos dias de hoje, não se antevendo, apesar dos repetidos apelos da ONU ao mútuo cessar-fogo e dos esforços de mediação diplomática dos EUA que as partes beligerantes venham a celebrar um acordo que ponha termo ao conflito e permita que ambos os povos possam coexistir e viver em paz.
Talvez que o reconhecimento e o respeito recíprocos pelas diferenças culturais e religiosas de cada uma das partes fosse um bom começo para alcançar a desejada paz.