A abordagem do tema é incontornável, face às centenas de hectares de território nacional ardido, nas últimas semanas de agosto, no norte e centro do país (cerca de 250.000). Mas confesso que me aflige voltar a ele, sobretudo depois dos grandes incêndios de 2017 em que os decisores políticos, ao tempo responsáveis, prometeram políticas e medidas tendentes a evitar a repetição de novas e semelhantes catástrofes.
Oito anos passados, eis que o fogo voltou a flagelar impiedosamente o norte do país e, ironia das ironias, também o já antes martirizado centro, nomeadamente o nosso vizinho concelho de Pedrógão Grande, aqui destruindo duas casas, máquinas, veículos automóveis e alfaias agrícolas.
No meio de mais esta tragédia, o que espanta não é a tradicional e conhecida voracidade destruidora do fogo mas, acima de tudo, a acrescida incapacidade de o combater e de o derrotar a tempo de evitar maiores danos e prejuízos, bem como a perda de vidas humanas – mais quatro até ao momento em que escrevo – e destruição de habitações residenciais.
O que preocupa e aflige cada vez mais os portugueses, mormente os afectados directamente por este flagelo inflamatório, é a contínua e reiterada incapacidade política de quem governa para definir e aplicar medidas que mereçam a confiança dos cidadãos e garantam uma efectiva mudança da paisagem florestal, tornando-a mais segura e resistente ao fogo.
Note-se que esta temática tem sido objecto de sucessivos estudos por especialistas académicos de reputada competência e que, pese embora uma ou outra dissonância de pormenor, são convergentes no essencial, ou seja, a maioria acha que a floresta tem de ser gerida de forma sustentável e economicamente rentável, contribuindo para a produção de bens e serviços (como madeira e água), para a conservação do ambiente e biodiversidade e para a satisfação das necessidades sociais.
Aqui chegados e não havendo grandes dúvidas sobre o modelo de gestão florestal a seguir, o leitor poderá, muito legitimamente, questionar-se porque razão não se avança na implementação prática das medidas adequadas à sua concretização!? As respostas são múltiplas, variadas e de diversa natureza, mas apesar do maior ou menor grau de dificuldade na sua implementação a verdade é que alguma vez terão de ser postas em prática. Sob pena de, ciclicamente, voltarmos a ser confrontados com fogos semelhantes, em extensão territorial e perdas, aos de 2017 e agora de 2025.
Um dos maiores óbices à implementação e concretização das medidas preconizadas para uma boa gestão da floresta é que, predominando esta na faixa interior do país, a crescente desertificação desta e consequente despovoamento não fornecem mão de obra suficiente para assegurar a sua concretização. Daí que, a nosso ver, uma tal reforma, para ser bem sucedida, deva ser acompanhada de medidas políticas (benefícios fiscais e outros apoios) que visem estancar tal desertificação e incentivar a fixação de pessoas e empresas no interior do país.
Sabemos, de antemão, que Roma e Pavia não se fizeram num dia e que inverter a actual situação de desertificação no interior do país não será tarefa fácil, mas acreditamos que ela será imprescindível para garantir o sucesso quer da reforma da floresta, quer da revitalização do tecido económico e social do interior de Portugal.
Mas como muito pertinentemente disse, por estes dias, o Presidente da Câmara Municipal do Fundão, Paulo Fernandes, para aplicação e implementação de tais medidas e reformas é imprescindível garantir e contar com a confiança dos cidadãos por elas abrangidos.
Esperemos que tal afirmação tenha chegado, audível, a S. Bento e a Belém!